REGISTROS, GENEALOGIAS, HISTÓRIAS E POESIAS...
a fim de preservação da memória de nossos ancestrais
MARILIA GUDOLLE C. GÖTTENS

terça-feira, 15 de novembro de 2011

A Trajetória dos Açorianos "SILVA" no RS

Parte dessa pesquisa foi a mim presenteada pelo saudoso primo ARY CALDEIRA DA SILVA, no ano de 1991, quando, após longos anos de pesquisa sobre a família SILVA no RS assim me disse: "Prima, eis aqui, o que pude fazer!!!! Espero que continues, acrescendo tudo o que pesquisares e que continues completando os mais possíveis dados de nossa história familiar referente a nossa numerosa família "SILVA".
A trajetória histórica descrita, remonta a levas de imigrantes portugueses ou "casais de número" que fora transportados do Arquipélago dos Açores e aqui no Rio Grande do Sul foram fixados como povoadores da incipiente colonização lusa nesta região do Brasil, aproximadamente nos idos de 1734.
O arquipélago dos Açores compõem três grupos de ilhas, separados por grandes intervalos, sendo nove principais assim distribuídas:
Santa Maria e São Miguel, com as ilhotas Formigas; no centro Terceira, São Jorge, Fayal e Graciosa; a oeste, Flores e Pico Corvo.
O seu solo é eminentemente vulcânico e muito dos seus picos são antigas crateras de vulcões extintos. Os Açores são muito elevados e apresentam formas esquisitas pela sua irregularidade.
O clima é suave e semelhante ao do sul da Europa, favorecendo a vegetação. Se solo produz não só as plantas européias como as tropicais. A vinha, os cereais,os legumes e as frutas são largamente cultivados. Cria-se também gado, suíno, lanígero e vacum.
Santa Maria é uma das menores ilhas do arquipélago, só tendo 17 Kms, na maior dimensão de sua forma irregular.
São Miguel, é de todas a maior, tendo 64 Kms. de comprido por 20 de largura.
Terceira segue-se em tamanho abaixo de São Miguel, medindo 30 kms de comprimento por 20 de largura média. Pela doçura do seu clima e beleza é considerada como um verdadeiro paraíso terrestre.
Pico, que tira seu nome da montanha que a domina e é a mais elevada do arquipélago, medindo 2.222 metros de altitude, tem 46kms de comprimento e uma forma bizarramente irregular. A Ilha é muito montanhosa, especialmente ao ocidente, onde está o maciço sobre que assenta o Pico.
Fayal, muito próxima do Pico, de que está separada por um estreito canal de6kms, em sua maior dimensão.
São Jorge é uma ilha estreita e longa com 54kms, por 5 a 6 estendendo-se de Leste para ONO, de Pico e Fayal, da qual está separada por um canal de 18 kms, em sua maior largura.
Graciosa, a 28 milhas a NO da Terceira, e a 20 de São Jorge, é depois de Corvo, a menor das nove ilhas do grupo. Seu comprimento de SE, atinge 18 kms com uma largura apenas de 6 kms no máximo. É a mais fértil do arquipélago, conquanto pouco arborizada.
Flores é a primeira do pequeno agrupamento que forma a extremidade NO, do arquipélago: fica a 225 kms do grupo da Graciosa e Fayal.
Corvo marca a extremidade NO dos Açores e é a menor das ilhas que o constituem.

Retrocedendo a história, no ano de 1680, Dom Manuel Lobo, então governador da Capitania do Rio de Janeiro, a mando do rei de Portugal, comandando uma poderosa frota de vários navios armados, contornou o território ao sul das fronteiras portuguesas que abrangiam a região da atual república do Uruguai até o estuário do Rio da Prata, zona de influência da Espanha na América do Sul.
Na margem direita do estuário frente a Buenos Aires, Dom Manuel Lobo, toma posse e estabelece numa área restrita, a célebre Colônia do Sacramento, povoação armada aos moldes de um baluarte militar destinado a alojar uma população flutuante a fim de dar uma aparência de colonização naquela vasta região despovoada. Na verdade, esse posto avançado, nada mais era do que uma fronteira avançada do império português.
Esse grupo de colonização situava-se além das posições militares da Espanha e, portanto, isolada da dispersa e diminuta comunidade portuguesa situada ao longo da costa atlântica para norte do continente.
Apesar dessas deficiências Portugal desenvolveu um grande esforço de colonização, visto que, a povoação mais próxima da Colônia do Sacramento era a vila de São Francisco da Laguna, situada abaixo da Vila de Desterro e distante 150 léguas e somente alcançada por caminhos difíceis.
Essa região imensa era despovoada e selvagem. Para sanar essa lacuna populacional e dar melhor apoio militar a fim de controlar a presença constante da Espanha que dominava a região ao sul da Barra do Rio Grande até a Colônia do Sacramento, bem como o território da missões orientais, o governo constrói as pressas um forte militar na entrada da Barra do Rio Grande destinado a dar apoio as forças de ocupação do império luso além de vigiar e dar combate às embarcações corsárias e escravagistas que praticavam ações de pilhagem ao longo da vasta e desértica costa do Atlântico Sul.
Foi nessa fase da história açoriana que os "SILVAS" marcaram sua presença formando a primeira leva de CASAIS que foram transportados por mar da Ilha de Santa Catarina até a região do Forte Militar da Barra e ali arranchados provisoriamente em área das Ilhas de Tarotama e Martins, bem como na atual cidade de São José do Norte.
Como a simples ação militar de apoio fosse precária, Dom João V, rei de Portugal, por influência do Conselho Ultramarino, resolveu organizar e financiar, a partir de 1740 a vinda para o Brasil de mais ou menos 4.000 portugueses habitantes do Arquipélago dos Açores, conhecidos como "casais de número", assim denominados porque só eram aceitos, quando convocados por editais, e sob certas condições tais como: os homens deveriam ter no máximo 40 anos e as mulheres 30 anos e somente possuírem dois filhos, menores ou não.
A resolução imperial tinha dois importantes motivos políticos para essa determinação, quais sejam: 1º) Tentar povoar a região sul do Brasil que viria a ficar livre quando fosse efetivada a retirada dos espanhóis da margem esquerda para a margem direita do rio Uruguai na atual região missioneira como estipulava o Tratado de Madrid firmado em 13/01/1750 entre Portugal e Espanha, mas que infelizmente não se concretizou pelo não cumprimento por parte daEspanha, do que havia sido acordado; 2º) Proporcionar o povoamento da região ao sul do Forte Militar de Rio Grande até a Colônia do Sacramento. E, para isso, o governo processou assentamentos açorianos nas cercanias da entrada da Barra, momento esse, como anteriormente citado, que os SILVA aportaram nesse chão.
Um português, chefe de uma firma Armadora, firmou contrato com o governo português, para o transporte dos "casais" que atenderam ao chamado do governo imperial para emigrarem ao sul do Brasil.
O contrato foi firmado em 7/8/1747 e de acordo com as condições do mesmo, segundo Jaime Cortezão e Guilhermino Cezar, teria sido o contrato redigido por Alexandre de Gusmão, vassalo de Dom João V e que em 1750 iria conduzir com sucesso as negociações para ultimar o 1º tratado de limites com o domínio hispânico na América do Sul - o Tratado de Madrid.
A firma de Oldemberg, mantinha desde 1741 o monopólio do comércio português ultramarino, que contratara até1752 e que dominava com seus barcos a navegação entre a Metrópole e o Brasil.
Seu poderio comercial, quase absoluto, contudo viria a desaparecer sob os escombros da cidade de Lisboa, quando esta foi sacudida e devastada em 1º/11/1755, por terrível e demolidor terremoto.
Apesar dessas dificuldades, somou-se que à época também o Arquipélago dos Açores sofreu idêntico cataclisma quando foram destruídas as Ilhas do Pico, Fayal e Graciosa. Este fato acelerou providências para a transferência de colonizadores açorianos para o Brasil.
Publicados os editais nas ilhas, concitando a todos os interessados a se inscreverem com as vantagens materiais prometidas por El Rei, já em 17 de setembro de 1747, nada menos que 448 Casais se inscreveram num total de 1433 pessoas, entre os quais membros da velha nobreza lusa e flamenga dos primeiros povoadores do Arquipélago que haviam ficado arruinados pela catástrofe que se lhes abateu.
O Armador Oldemberg não foi feliz nesse contrato, pois logo na primeira viagem efetuada que aportou entre janeiro e fevereiro de 1748 à Desterro, na ilha de Santa Catarina, grandes foram os prejuízos e maiores os dos Casais vindos nesse comboio.
Após uma viagem terrível de quase três meses no mar, confinados em pequenos navios mercantes e cargueiros denominados "galeras", lotados e sem acomodações para tão elevado número e, ainda com sua situação agravada por tantas outras medidas restritivas impostas aos Casais durante o longo e moroso percurso, os quais foram impostas por ordem do Conselho Ultramarino, sob a presidência de Marquês do Pombal.
Essas diretrizes impostas aos armadores pelo contrato, propiciaram efeitos danosos que se fizeram sentir na grande mortandade entre os passageiros já que essas medidas disciplinares atingiram em cheio, principalmente as mulheres.
A odisséia desses Casais, desde sua partida das Ilhas até seu destino na Vila de Desterro, cuja saga foi agravada por uma deficiente alimentação e ainda mais pela disposição daquele malfadado regulamento com o fim de acautelar as desordens e "safadezas" que eram comuns em viagens longas, principalmente, em navios que transportavam mulheres, ordens estas dirigidas com as melhores intenções, mas de correspondências nada compensadas.
O regulamento em vigor chegara a impor um regime de verdadeiro enjaulamento como se as mulheres passageiras estivessem em prisões, recebendo sua alimentação através de um postigo... Somente o cirurgião e o capelão podiam entrar nos alojamentos de ambas e de seus filhos menores, assim mesmo apenas para tratá-las ou para lhes ministrarem os sacramentos, tudo na presença do comandante do navio. Era permitido que falassem com elas somente os maridos, filhos e irmãos, à hora da principal refeição e sem chegarem-se muito perto...
Quando nos dias santificados o capelão celebrasse missa, poderiam as mulheres ouvir a referida missa ao pé do altar, passando na ida e na volta, entre alas de guardas armados que as separavam do resto dos homens, colonos e tripulantes...
Por essas razões absurdas, é que devemos render homenagens às nossas heróicas ancestrais açorianas, visto que muitos dos que abandonaram as Ilhas dos Açores na esperança de dias melhores no Brasil, foram sendo sepultados nas águas do Atlântico com seus sonhos e ilusões.
Os que resistiram à travessia, chegaram ao seu destino como verdadeiros espectros. Entretanto, estes sofrimentos não foram os últimos, pois no Brasil, eles e elas, casais ou não, tiveram três anos de sofrimentos e agruras em região desconhecida, enfrentando desconforto, alojadas em habitações de paredes de barro cru e cobertas com palhas de tiririca dos banhados, além de alimentação insuficiente. Melhores condições de vida usufruíram os Casais que foram arranchados nas proximidades do mar, porque dispunham da pesca abundante para sobreviver. Os casais localizados nas cercanias do forte militar da Barra, aguardavam pacientemente um assentamento definitivo vivendo nos acampamentos sediados nas ilhas de Tarotama, Martins e em uma área do atual município de São José do Norte. Mais tarde, foram estes Casais que formaram os assentados nas terras de Viamão e no Porto dos Casais, hoje Porto Alegre.
Dos sofredores Casais acantonados ao longo da costa oriental da Ilha de Santa Catarina, alguns foram sendo removidos, à medida do possível, para o Rio Grande de São Pedro e outros iniciaram povoamento e plantações onde hoje situam-se as praias de Joaquina, Lagoa da Conceição, Ingleses, Canasvieiras, Jurerê e outras.
Nesse período da colonização, assumiu o governo da província do Sul, o General José Marcelino, tomando então providências para legalizar a situação dos Casais já localizados na iniciante povoação de São José do Taquari e em outros pontos ao longo dos rios dos Sinos, Taquari e Jacuí, conferindo-lhes "datas" e até sesmarias, visando com estes provimentos a formação de bases defensivas seguras para o futuro acolhimento de forças militares, ante uma possível ofensiva hispânica sobre a cidade estratégica de Rio Pardo, já em desenvolvimento à época.
O governadorJosé Marcelino ordenou ao engenheiro Capitão Alexandre José Montanha, a demarcação das terras da antiga sesmaria do Padre José Nunes Reis, na região de Itapuã, loteando-a em "datas", para serem distribuídas a 60 casais de Açorianos, dos que se encontravam nos campos de Viamão aguardando destino.
Pretendia o General José Marcelino, fundar nesse local a futura povoação da VilaReal de Santana ou de Santana do Morro Grande, hoje 2º distrito de Viamão. Essa iniciativa, no entanto, não vigorou e, também pelos mesmos motivos que fizeram fracassar as tentativas iniciais com casais açorianos no litoral catarinense.
As terras da sesmaria de Itapuã usadas para as "datas", eram exageradamente arenosas, impróprias tanto para construir casas como para a agricultura, além da ação nefasta de ser a área infestada por formigas saúvas de difícil extermínio à época.
Assim, nada restou do que deveria ser uma povoação e uma freguesia. Dos sessenta casais beneficiados com a doação de "datas" demarcadas pelo engenheiro Montanha naquele ano de 1770, apenas restaram em 1784 os 15 Casais citados pelo General Borges Fortes, entre outros, os casais Antônio Alvares de Souza, Antônio Silveira Dutra, Caetano de Borba, José Luiz Viegas, João Nunes Machado, Luiz Vieira Fraga, Silvestre Vieira, MANUEL PEREIRA SOARES e sua mulher Dª MARIANA SILVEIRA DA SILVA, AMBOS NOSSOS ANCESTRAIS, e pais de MATHEUS SOARES DA SILVA.

Arquivo Pessoal de Ari Caldeira da Silva e Marilia Gudolle C. Göttens


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