REGISTROS, GENEALOGIAS, HISTÓRIAS E POESIAS...
a fim de preservação da memória de nossos ancestrais
MARILIA GUDOLLE C. GÖTTENS

domingo, 30 de outubro de 2011

André Gudolle - 1914 a 1929



Esmerilda Monteiro Sampaio, 2ª sogra de André, faleceu em 14/01/1914, em sua casa, lugar denominado "Angico", na sesmaria de Santo Cristo.
No dia 4/4/1914 casa Djalmira com o jovem Hugo Veronese Cacciatore, negociante em Itaqui, RS.
O 1º filho de Deuclydes e Iaiá nasce em 1914, chamando-se Raul. Djalma, no ano de 1915, já tem 3 filhos, sendo o último chamado Rubem.
Permanece André em 1915 em Santo Izidro, com sua filha mais velha Malvina
Ainda no ano de 1915 Djalma muda-se para São José no Rincão da Cruz, onde fora arrendatário de 20 quadras de campos. Para esse local leva seu gado comprado de seu pai André em agosto de 1914. " Rincão do Inferno" está dispersado de gado, nesta data dezembro de 1915 ;nada tenho ali. Está a cargo de meu compadre Feliciano Soares, que nada ganha para cuidar os aramados e casa." (Memórias Manuscritas de André Gudolle).
Em Santo Izidro, ainda em 1915, André tem pouco gado invernado, ou seja, 250 reses de crias amestiçado zebu.
" Os meus interesses estão diminutos. Há, porém, com que pagar os meus débitos atuais, salvando o campo denominado Santo Izidro que pela alta dos preços dos campos, vale cem contos de réis, com bom estabelecimento de material (alvenaria). O campo está dividido em duas invernadas e mais potreiros. Boas mangueiras com tronco de madeira de lei. Continuo estes apontamentos com um interregno de dois anos, pois os fatos de interesse em nossa família, poucos a anotar-se".
Foi realizado o casamento de minha presada filha "Vindinha" (Delminda) com o jovem advogado Dr. Osvaldo Aranha, em 12/6/1917. Este é filho de nosso bom amigo Cel. Euclydes de Souza Aranha com a Exmº Srª Luiza Vale Aranha.
O casamento civil foi efetuado na Intendência Municipal de Itaqui (RS), perante grande concorrência de amigos de ambas as famílias. Na mesma ocasião, à noite, foi também realizada as núpcias da filha Eloá Aranha, filha dileta dos amigos anteriormente anotado. Foi com uma grande pompa." (Memórias Manuscritas de André Gudolle).
O 2º filho de Djalmira chama-se Luiz, com 11 meses em agosto de 1917.
"Estamos em agosto de1917. Dico além de Raulzinho, tem mais duas meninas. Perdeu o 2º filinho que era meu afilhado. Chamava-se Guido. As meninas, uma é Benvinda e a outra é Maria. Esta recentemente nascida." ( Memórias Manuscritas de André Gudolle).
Dico (Deuclydes) nessa época, achava-se trabalhando como tesoureiro na Intendência Municipal de Itaqui.
"Presado Djalma. És o meu filho mais velho, por isso te encarregarei de todos os meus negócios, quando eu já não possa exercê-los, mesmo depois do meu passamento, que peço a Deus, nosso criador, para prolongar fato que um dia se dará. Prolongar a minha existência que agora tenho mais necessidade dela, como vais ver."
"O que te relatei em carta de 20 a 26 de agosto (1917), te surpreenderá, no entanto, se refletires com calma, com critério, reconhecerás que o meu ato era o mais correto e social. Já tenho cumprido a minha missão para com meus filhos do 1º matrimônio, educando-os e colocando-os em nossa melhor sociedade, e vivendo só, atualmente, sem o amparo de uma terna companheira. Resolvi casar-me, o que farei brevemente, Deus permitindo."
"A minha escolhida recaiu em moça ainda jovem, não tem 30 anos. É tua prima 2ª, a filha mais velha de meu velho amigo Netto, teu tio primo. Tem predicados como seja: bela, muito meiga, com uma alma pura, rica de sentimentos, sem fortuna alguma, porém, a posse da pessoa dela é uma verdadeira fortuna. Estou resolvido definitivamente casar-me com ela, afrontando todos os óbices que possam aparecer. Te peço criteriosa aprovação e de tua esposa, minha boa nora Isalina. Sei que acatarás meu ato, dando-me a tua concessão, sem o menor constrangimento. Tua prima, que julgo que tu a conhecerás, chama-se Julia. A família a apelidou de Julica. Só vou orientar-te, o quanto ela é digna de entrar em nossa família, não só pelas suas boas qualidades, educação, como pelo seu desprendimento de interesses e abnegação. Propus, como te disse em minha citada carta, de dar-lhe um pequeno dote para assegurar o seu futuro. Contestou-me, quase indignada que não aceitava dote algum, que se casava por amizade, indo mais longe, pelo muito amor que já por mim sentia. Admirei este seu gesto. É de uma candura quase celestial. Seria para mim uma felicidade se não encontrar contrariedade na opinião de meus amados filhos. À todos escrevi longas cartas, advogando a minha nobre causa. Espero ser bem interpretado com a aprovação de todos os seres que me são caros. Tratarei de trabalhar ainda, para conseguir um pecúlio para ela. Ela que abnegadamente aceita a minha mão de esposo, sem interesses de bens. Em remuneração em tempo, pela sua desinteressada dedicação a minha pessoa." (Memórias Manuscritas de André Gudolle".
André Martins Gudolle, casa em 3ªs núpcias no dia 4/01/1918, com Júlia Nunes Netto, filha de José Nunes Netto e Adelina Saldanha Netto, em Santo Izidro onde André já morava. "Julgo-me feliz com este enlace. É tão boa e carinhosa a minha amada Julica, que lamento não ter sido este casamento há mais anos". (Memórias Manuscritas de André M. Gudolle).
No dia 19/01/1918, ou seja, 15 dias após o casamento de André e Julica, morre seu filho Heraclides (2º casamento) em Porto Alegre. Foi assassinado pelos bandidos Azambujas, os quais foram processados.. Heraclides caiu morto, após lutar de bengala contra cinco homens, e, no final atirando com um revólver, feriu os cinco.
"Essa desgraça em minha família, já é o 2º fato. Raul sucumbiu a tiros, desferido pelo falso amigo Fernando Marques. São fatos estes que me é duro recordá-los. Deus é justo, saberá punir os criminosos se a justiça falsa de nossa terra não souber cumprir os seus deveres. Falo lentamente nesse assunto, com já disse, doe-me recordar que perdi esses amados filhos, tão jovens ainda.
No dia 30/8/1918 nasce em Uruguaiana, RS Luisa Zilda (Zazi), filha de Delminda Benvinda (Vindinha) e Osvaldo Aranha.
Nesse ano de 1918, Djalmira tem mais uma filha, chamada Elba. Djalma mais um filho.
Pela metade do ano de 1918, André escreve carta a seu filho Djalma nos seguintes termos: " Djalma, meu prezado filho. Como não somos eternos e já eu tenho vivido 67 anos que irei fazer em 4/2/ do ano próximo futuro, passo a tomar algumas disposições abaixo exaradas.
Em nome de nosso Deus todo poderoso, nosso Pai Celestial. Com o gozo de todas as minhas faculdades mentais, faço estas declarações: Peço-vos pagarem todas as minhas dívidas comerciais: no Banco da Província, vinte e quatrocentos e tantos, no Banco Pelotense, trinta e tantos contos; creio ser R 33:665000, salvo engano. Ao Sr. Paulino A. de Menezes em Uruguaiana, 5:000 e um pouco mais, ao meu genro Osvaldo Aranha, R: 3000 (três contos de réis), à Dª Alice Barcellos R: 5000000, estando os juros pagos até 22 do corrente mês, como bem sabe o meu genro Hugo. Para a viúva de Manoel Reis Martins, seis contos de réis, já pagos os juros até 30 do corrente mês. Para este pagamento tenho dinheiro em mãos (quatro contos, couro e lã). Para Galdino W. da Costa, 4 contos de réis. Calculo dever oitenta e poucos contos de réis a estranhos.
Tenho para estes pagamentos o seguinte: 90 bois mansos invernados que se não baixarem de preço, produzirá em vendas com gados (240:000). Tenho 220 reses gordas (140:000), tenho 380 reses de cria.
Devo mais: Ao meu filho Djalma, 100 reses de crias, das quais também pago arrendamento, que está pago até 28 de março deste ano. Devo mais a minha Esmerilda, o valor constante no inventário feito por morte de sua mãe Maria Luisa Sampaio Gudolle, minha 2ª esposa, oitocentos e tantos réis, segundo se vê em seu formal de partilha. A esta devo mais100 reses de crias.
Tenho arrendado de D. Ludovina Netto S. Mello, 49 reses de crias, ao preço de R 6,500 por cabeça, pago o arrendamento até 30 de agosto do corrente ano. Devo a esta senhora por uma promissória, sete contos e setecentos mil réis, que se vencerá no dia 8 de setembro de 1919, a qual letra é para reformá-la a razão de 10 contos de réis anuais, garantida com campo do Rincão do Inferno.
Possuo mais esta fazenda de Santo Izidro, com meia légua de sesmaria que, com benfeitorias, a estimo em R 150:000. Tenho no Rincão do Inferno 13 quadras de sesmaria de campo, campo este que foi de meu inesquecível filho Heraclides. Há, portanto, com que pagar o meu passivo.
A fazenda Santo Izidro, deve ficar para um dos filhos, o que possa comprar as partes uns dos outros.
Disponho de meus bens do seguinte modo: Pago o passivo do ativo..... em campos. Do Rincão do Inferno, dou à minha mulher Julia Nunes Gudolle 5 a 6 quadras de campos e o estabelecimento do "Rincão do Inferno"; mais 500 ovelhas que para o ano próximo terá mais desse número e também todos os móveis constante da casa de Santo Izidro, excetuando-se um piano, que dou à Esmerilda, e os retratos que pertencem aos meus filhos.
Peço aos meus amados filhos, que não ponham a menor dúvida do que fica exposto. Nos móveis que há em Santo Izidro, alguns pertencem a Malvina. Observo que Malvina é minha filha natural, e como tem sido muito boa e tem servido de mãe para meus filhos em geral, podem considerá-la como herdeira. Peço então dar-lhe uma fração de campo no Rincão do Inferno com 5 quadras de sesmaria.
No Rincão do Inferno tenho 13 quadras de sesmaria como já disse, e 3 quadras e um quarto para mil...........campo, que foi do finado Guido, campo este que vem de seus avós maternos.
Ainda, os móveis: tem alguns que pertence a Milida e Malvina como já disse. Ainda para Julica, lego dos móveis, o que foi comprado para ela, no ato de nosso casamento. Mobília de quarto, cômoda e da sala, o que é cadeiras e sofá. Também lego..................................................." (Memórias Manuscritas de André Gudolle)
INFELIZMENTE O DIÁRIO DE ANDRÉ MARTINS GUDOLLE FINALIZA ASSIM, TENDO O MESMO FALECIDO EM ITAQUI/RS, NO ANO DE 1929, local onde foi sepultado.

Arquivo Pessoal de Marilia Gudolle C. Göttens

Uma história de amor... Iaiá e Dico






Esta estória será trancrita fielmente, respeitando a ortografia, sendo retirada de um caderno escrito com data de 30/6/1961, em Porto Alegre, assinado por Rôsina, a qual penso que seja parente de Dico ou Iaiá.

"Podia começar esta história como aquelas dos lindos contos da avosinha que diziam assim. Era uma vez um principe e uma princeza que muito se amaram. Mas prefiro dizer assim, era uma vez um inspirado poeta e uma bela e sonhadora jovem que muito se amaram. Todas as histórias tem sua origem e fonte de nascer, esta originouse na Fazenda de "São Jorge" de propriedade do Sr. Duarte Joaquim da Silva homem de figura simpatica que logo a todos conquistava por seu trato amavel e cavalheiro. D. Maria José sua esposa, a D. Zé como a chamavam era tambem uma Senhora muito simpatica dotada de muitos predicados e principalmente a fé e a bondade que havia em seu coração, a serenidade daqueles olhos azues bem diziam. Lembro-me do Sr. Duarte contar como conheceu D. Zé, foi em um baile na campanha, ao chegar a porta do salão, olhou ao redor vendo lindas moças, e perguntou, quem é aquela linda ruiva vestida de azul? ao que responderam, é a filha do fazendeiro José Antunes Monteiro, ao tocar um chote, foi convidal-a para dançar e daí começou o namoro que deu em casamento, na fazenda de São Jorge e viveram vida feliz crearam sete filhos que eram José, Rita, Isalina, Duartina, Esmerilda, Vicentina e Dorvalina,
Sr. Duarte mandou vir da cidade uma professora para lecionar as meninas e mais tarde comprou piano para as mocinhas aprenderem. Casou-se a Ritoca, a filha mais velha, houve grande festança na fazenda, veio musica da cidade e tambem muitos convidados. Ja nesse tempo começou o romance de Dêo e Iaiá, eram ainda duas crianças sem saberem o que queriam da vida, em seus pensamentos puros e inocentes nem comprehendiam a realidade da vida, sonhavam, foi um lindo sonho de amor que prolongou-se por muito tempo, e na ausencia mantinham correspondencia, ele esteve algum tempo em P.Alegre voltando depois para perto de seu grande amor. Muito do que escrevo sei contado por Celina que casou-se com o lindo moço filho do fazendeiro Sr. Duarte,
passaram-se muitos anos e o Sr. Duarte por motivo de saude foi morar na cidade entregando a fazenda para o filho, e o casamento de Iaiá e Dêo realizou-se e aquele sonho tornou-se realidade. Já no primeiro ano de casados nasce Raul, o casal estava feliz com o nascimento do lindo menino e depois quase todos os anos eram premiados com mais um que eram Mario e Guido, este não chegou a se criar deixando para sempre a lembrança no coração de seus paes mas logo outro anjinho veio encher o berço vazio suas filhas Benvinda, Maria, Ruth, Déa, Zilda e Ilsa. Benvinda desde pequena morava com a avó veio estudar em Porto Alegre e depois casou-se.
Sr. Deuclydes era então secretário da prefeitura de Itaqui, passaram-se muitos anos, quando receberam por herança a fazenda de nome Sta Tereza os filhos estavam ainda muito pequenos e eles foram habitar Sta Tereza la na casinha branca a sombra dos cinamomos.
Fui passear em São Jorge a grande casa que foi do Sr. Duarte, tudo se conservava como antes, a sala com sua antiga mobilia e seus retratos de familia que estava sempre feixada, aquela sala onde tantos pares valsaram e que tantas juras de amor por certo foram trocadas, tudo silencio e recordações de sonhos passados, no quarto ao lado que foi do antigo casal, e tambem foi quarto de noivado da filha mais velha, havia uma antiga mobilia, um grande guarda-roupa que guardava ainda um lindo vestido de noiva que foi da primeira filha que casou-se a Ritoca, era um vestido da cauda toda a frente da saia com babadinhos de gase frisada com fita picot a beira, um encanto de vestido/outro de seda azul cheio de fofos, era o vestido do 2º dia do casamento fiquei admirada de vêr que já naqueles tempos havia tanto luxo e gosto.
Havia tambem no quarto um oratorio que foi de D. Zé, com o simbolo do Divino Espirito Santo, éra quase permanente duas velas acezas em castiçal de prata, como nos tempos de seus antigos donos. D. Zé era devota do Divino Espirito Santo, contam que quando a fazendeira ia a cidade viajava em onibus de sua propriedade acompanhada de uma comitiva, era quando ia encomendar o enxoval para as filhas que iam casar, queria tudo do melhor e procurava a melhor modista da cidade e não regateava preço, pois pára isso ia bem endinheirada ela costumava viajar com uma caixinha sobre os joelhos com o simbolo do Divino Espirito Santo, uma pombinha coberta de fitas, cada fita uma graça recebida grande fé éra a sua e porisso foi bem feliz.
Na fazenda de São Jorge tenho bem presente acima da porta do corredor que dá para a sala de janta está creio que até oje a figura do glorioso São Jorge com a sua (duvindama) a matar o dragão colocado ali pelas mãs de Celina, o Santo nem só éra protetor nas casos de perigo mas tambem nos casos de amor, pois todos os romances ali começados foram felizes.
Sempre aos domingos iamos passear em Sta Tereza, já de longe via o Raul que anunciava correndo e pulando, alí vem tio José e tia Celina, e logo o gaúcho seu pai vinha ao encontro prazenteiro a dar as bôas vindas aos visitantes, logo a Iaiá assomava a porta da casa rodeada pelas creanças, era uma alegria a preta Benedita corria a matar galinha que fazia com molho pardo ou com arroz, assado de ovelha, panquecas que fazia muito bem feitas, doce de leite, pudim de leite e pão doce tudo muito bem feitos por Iaiá, depois do almoço eu ia me embalar no balanço de cedro que pendia dos cinamomos a frente da casa embalava ao colo uma por uma das creanças, Maria, Ruth e Déa. Sr. Deuclydes balançava a rêde fazendo bater a ponta dos galhos e eu gritava com medo de cair, a tardinha voltavamos projetando outro passeio.
Voltando a São Jorge eu escrevi uns versos que eram assim.
Santa Tereza a poetica morada
Sob a sombra de arvore copada
Me fez lembrar as lendas encantadas,
Que os poetas descrevem em baladas,,
Onde vive um par feliz ditoso
Em doce enlevo terno e amoroso
Felizes e ditosos
Ligados por afetos grandiosos
em alegria festiva da alvorada
Quando resôam no lar como gorgeio de ave
O riso candido de alegre criançada
Seja esse lar lugar sagrado
Templo de paz e amor,
Seja por Deus bendito e abensoado.
E assim foi, eu de versos nada entendia, escreví la na parede branca da casinha.
Raul tambem fazia versinho, lembro-me de um que era assim,
Eu tinha uma galinha preta
Que bota cinco ovos por dia,
Sê botasse meia duzia
Que fritada eu fazia...
Mas aquele santo viver tinha de mudar, teriam de ir para a cidade educar os filhos. Lá nasceram mais duas filhas, Zilda e Ilsa, Maria e Ruth lá estudaram e receberam seus diplomas de professoras, Raul estudou em Porto Alegre, e hoje é talentoso advogado, a vida corria normalmente.
Mas a cigana disse, que mudariam de cidade e que em Passo Fundo seriam felizes e assim foi, pois la educaram mais três filhas filhas, Zilda, Déa e Ilsa, também casaram três filhas. Mario quiz continuar a tradição de seus antepassados criando e plantando, casando-se tambem.
Ela a grande mãe lá tambem teve a fase dolorosa de sua vida, foi quando teve de criar seus netinhos, depois de criar oito filhos. Mas tudo venceu. Lucinha está criada e educada é oje uma linda moça, o netinho tambem ja é um mocinho, vençeu porque a fé anima sempre o seu coração.
De Passo Fundo para Porto Alegre
Hoje no sosego do lar gozam o merecido premio de suas lutas e sacrificios rememorando o passado, é como quem fez a volta ao mundo e volta ao ponto de partida, do altar para o altar, já bem perto da maravilhosa torre de ouro que em breve alcançarão, essa torre ornada pelos trofeus que são os diplomas e aneis de graus de seus filhos, e o diadema de pedras preciosas a ornar-lhes as cabeças prateadas, é o dinheiro que juntaram em toda a sua vida, e como a chuva que cai, que vai e que vem, e a chuva de ouro a cair, e o tesouro inesgotavel que juntaram para seus filhos, "o Saber".
Quando chegarem de volta junto ao altar, a marcha triunfal pode tocar e nada temais, porque uma voz os dirá, sigam, a vida é bela para os que sabem viver, ela toda um hino de amor, um grande poêma, porque á em cada coração um sacrário onde arde a chama purificadora do amor."
Romance de Iaiá e Dêo,
Desculpem se a história não está bem contada.
Uma homenagem da sempre amiga e admiradora
Rôsina
Pôrto Alegre 30-6-1961



Arquivo Pessoal de Marilia Gudolle C. Göttens

sábado, 29 de outubro de 2011

André Gudolle: Mais perdas e ganhos

Em 18/12/1905, falece Raul, filho natural de André Gudolle ao ver seu irmão Deuclydes ferido na boca por um tiro desfeichado por Fernando Marques, e recebendo 3 tiros do mesmo, deu-lhe 4 facadas, morrendo este e Raul. Os motivos, hoje desconhecidos, refere-se André:" Nada mais digo sobre este fato, pois sabeis todos os pormenores". (Memórias manuscritas de André Gudolle). (Dirigindo-se à seu filho Djalma).
Após o duplo homicídio, Deuclydes foi processado pelos familiares do tal Fernando Marques a fim de incriminá-lo como cúmplice de sua morte. "A ser real o crime, seria uma mancha em nossa família. Felizmente a verdade e a justiça triunfaram, não sendo nem pronunciado Deuclydes. A parte contrária em grau de apelação, sustentou a sentença de impronúncia do juiz de direito de Porto Alegre, Dr. Otávio Pila, isto em dias de abril de 1906".
No dia 17/4/1906, às 15 horas, após longa enfermidade falece o Major José Ferreira Sampaio, com 64 anos, sogro atual de André e seu grande amigo. "Filhos, meu velho amigo e sogro Sampaio, era avô materno de vocês.. De tempos em tempos, dirijam a Deus todo poderoso, uma prece em favor de sua alma; que Deus a tenha em sua divina glória. Amém Jesus".
"Não desdenhais meus prezados filhos, de vosso pai crer em Deus todo poderoso, também creiam. Deus, é o grande criador do universo, e todos os seres nele existentes. Com o seu incomensurável poder, pode tudo criar. Porque não criaria a alma imortal do homem? Criou!! É um segredo tão grandioso como grande é Ele. No entanto, os homens já penetraram nesse segredo, hoje não se ignora a imortalidade da alma." "Nada mais digo-vos sobre tão magno assunto. Deixo aos seus critérios. Mais tarde, quando tiverem 30 e mais anos, estudarão os fenômenos espíritas, porém com muito respeito e critério". (Memórias manuscritas de André Gudolle).
André, atendendo pedido de seu filho Djalma, solicita a seu amigo Duarte Joaquim da Silva, a mão de sua filha Isalina Monteiro Silva para sua esposa.( Duarte Joaquim, também é meu bisavô materno.) " Fostes bem sucedido quanto a teu pedido, pois foi aceito" (Memórias manuscritas de André Gudolle".
Djalmira também foi pedida em casamento pelo Tenente Américo Salles de Carvalho, oficial da marinha, natural de Rosário RS, onde sua família tinha fazenda de criação. O casamento de Djalmira não se realizou, ocasionado pela morte heróica de seu noivo, durante a revolta de João Cândido na esquadra.
O jovem Parmênio Palmeiro casou em 30/9/1909 em Itaqui, na casa da Senhora D. Luiza Palmeiro, com Deolmira Gudolle.
Parmênio e Deolmira

André Gudolle vende em agosto de 1909 a casa comercial denominada "Revolução" ao Senhor Lourenço Escobar. Desde então passa, a residir em Santo Izidro, interior de Itaqui, RS. (Essa casa ainda permanece em seu mesmo lugar. A conheci quando tinha mais ou menos 12 anos. Lembro-me perfeitamente dela, de seu interior, com vários móveis antigos, toda de pedras, rodeada de inúmeros pés centenários de laranjeiras. Quem levou-me até ao local juntamente com minha saudosa mãe, foi seu saudoso irmão Mario Silva Gudolle, por ocasião de encontrarmo-nos em visita à sua casa em Itaqui/RS.)
" Com a liquidação da casa comercial da "Revolução", trouxe-nos bastante prejuízos. Estes atingem a cincoenta contos mais ou menos. A casa que estabeleci em Bororé sob a firma "Deuclydes Gudolle", muito prejuízo nos tem dado, superior a vinte contos. Estou trabalhando com dinheiro a juros. Acolá que Deus me ajude a vencer as mil dificuldades por quais temos passado. Meu filho Djalma, teus lucros foram as tuas despesas pessoal e despesas para médico e botica que os paguei. Tua legítima, casa e mesada contendo em carteira a quitação; o mesmo, Dico (Deuclydes) também recebeu. Também está paga a legítima de Deulmira. Com a permuta entre vocês três, também entrou os bens remanescentes que você e Dico receberam". (Memórias manuscritas de André Gudolle".
Deuclydes Gudolle (meu avô materno), casa em 30/7/1913 em Itaqui, com Duartina Monteiro Silva (Vó Iaiá). Esta vem a ser irmã de Isalina Monteiro Silva, casada com Djalma. Portanto, dois irmãos, casados com duas irmãs. Estas eram filhas de Duarte Joaquim da Silva e Maria José Monteiro. ( A ascendência desta família, será postada mais adiante).

Arquivo Pessoal de Marilia Gudolle C. Göttens

Ainda, a trajetória de André Gudolle

Em 25 /9/1894, André retira-se com sua família da cidade de Itaqui, mesmo sem ter terminado a execranda revolução restauradora, a qual, só em 23/8/1895 é que concluiu por meio de "pazes".
Reabre sua casa comercial, a fim de reaver o perdido e lutar pela vida.
Deu sociedade na terça parte dos lucros, por dois anos, e metade dos lucros, por mais dois anos últimos, a seu empregado e amigo, Dyonísio Pereira da Silva, em remuneração dos muitos serviços que prestou-lhe durante o período revolucionário. " Peço-vos que todos vós, meus filhos, sejais amigos de meu sócio, muito honesto e honrado, e viu todos vós se criarem". ( Memórias manuscritas de André Gudolle".
Em virtude do falecimento de Maria Benvinda, em 18/12/1894, foi procedido ao inventário dos bens existentes, tocando a Djalma e Deuclydes, a casa na cidade de Itaqui, que foi herança dos pais de André, e parte em dinheiro que ficou sob a administração do mesmo.
A herança de Djalmira, Diulmira e Delminda, foi a metade do campo denominado "Rincão do Inferno", localizado no 2º distrito de Itaqui, nas pontas e costas do arroio Ibipuitã em sua margem esquerda, e também parte à direita, bem como parte em dinheiro e as jóias de Benvinda, tudo ficando também na administração de André.
Em 1897, André resolve casar com Maria Luiza Sampaio, filha de seu velho amigo José Ferreira Sampaio e Esmerilda Monteiro Sampaio. "Por achá-la muito digna, honrada e virtuosa, resolvi tomá-la por esposa, cujo enlace presenciastes (dirigindo-se aos filhos) no dia 23/7/1897, nesta casa, de que tudo consta em livro próprio, no cartório deste 2º distrito de Ytaqui." ( Memórias manuscritas de André Gudolle").
Após o casamento de André e Maria Luiza, Djalma foi estudar em Porto Alegre, no dia 13/4/1898.
Os avós maternos de Djalma, Deuclydes, Djalmira, Diulmira e Delminda, quais sejam: Galdino Francisco Pereira e Camila Nunes Vieira, faleceram; o 1º, em 27/8/1894, e a segunda, em 21/03/1897, ambos com idade já avançada.
André adquire meia légua de sesmaria de campos e matos, localizado no 2º distrito de Itaqui, lugar denominado "Santo Izidro", campo esse próprio para invernar bois. ("pretendo não vender este campo. Se assim suceder, desejo deixá-lo ao Djalma e ao Deuclydes, com a condição de não vendê~lo a não ser de um para o outro. É um campo especial, que dá para invernar 800 a 900 bois, e não ser necessário reinverná-los. É, portanto, muito próprio para engorda, negócio de muito resultado em nossa terra, ou por outra, é ainda um dos primeiros negócios em nosso Estado, invernar touros e vendê-los bois gordos, principalmente, se vender na invernada. Saladeiros, como dizem os castelhanos, é negócio muito arriscado. Aconselho-vos que prefiram fazer negócio na própria invernada." (Memórias manuscritas de André Gudolle).
"Todo o tempo que tens estado no colégio meu querido Djalma, estou aqui a comerciar nesta casa que dei o nome de "Revolução", para comemorar a revolução pacífica de 1889.
Os meus lucros não são grandes. Dá para viver com alguma abundância e para educá-lo e mais vosso irmão Deuclydes."
No ato de casar-me em 2ª núpcias, fiz uma disposição testamentária, isto antes de efetuar o matrimônio, no qual lego da minha terça, uma certa quantia a tua irmã Malvina, (filha natural de André, antes do casamento com Maria Benvinda), se ela tiver comportamento honesto. Também ao Raul, (filho natural de André, antes do casamento com Maria Benvinda), e a vocês todos com partes iguais, ao depois de retirar a quantia para tua" irmã." (Memórias manuscritas de André Gudolle).
No dia 14/7/1889, nasce Heraclides Sampaio Gudolle, filho de André e Maria Luiza Sampaio Gudolle. "Peço-vos a todos vocês, meus filhos, que o reconheçam como irmão e o tratem com amor fraternal, no que me darão muito prazer, enquanto eu viver. Vossa madrasta é atualmente minha esposa, a quem amo profundamente. A mesma esteve em perigo de vida ao nascer o vosso irmão. Felizmene Deus nos favoreceu em sua graça, depois de estarmos quase desanimados de salvá-la." (Memórias manuscritas de André Gudolle).
André, nessa época, se queixa muito a seus filhos, de Malvina (filha natural que morava junto com sua família). " Malvina não prima em respeito comigo. É de um gênio irracional, indomável, a ponto de exasperar-me. Se ela não proceder com respeito dora em diante, é muito provável que a disposição testamentária que em parte a ela aproveitava, eu a inutilize. Felizmente, até esta data (3/9/1899), ela tem se portado honestamente. Creio que nesse ponto, ela assim continuará, e se prevaricar (que Deus a livre), pior para ela." (Memórias manuscritas de André Gudolle).
Djalmira no ano de 1900, encontrava-se em companhia de seu tio Maximiliano Nunes Pereira, frequentando a escola. Dali segue para sua tia Julia Pereira Vieira, no Salso, em São Gabriel,
RS.
No dia 3/4/1901, às 3 horas da madrugada, nasce Esmerilda Sampaio Gudolle, 2ª filha de André e Maria Luiza Sampaio Gudolle. "Um susto levamos, pois foi um parto bem laborioso, de minha adorada esposa, a ponto de mandar vir médico operador; felizmente não foi necessário vir o médico, pois não chegou a sair de Itaqui. O nosso médico espiritual (note-se que André tinha crença espírita, tal qual seu filho Deuclydes) Perseverando Constâncio da Silva, fez o seguinte prognóstico que a mim disse: sua esposa D. Maria Luiza, não corre perigo na ocasião do parto; não precisa médico e terá o filho em princípios de abril e será do sexo feminino. O resultado, graças a Deus todo poderoso, foi matematicamente exato." " Eu já creio que por invocação do espírito, se faça excelentes curativos. Meu filho Heraclides, foi curado com muitas receitas espíritas; o mesmo Diulmira e Maria Benvinda, em certas ocasiões". (Memórias manuscritas de André Gudolle).
No dia 3/4/1905, falece Maria Luiza Sampaio Gudolle, 2ª esposa de André. " Eis que a fatalidade novamente surge em meu lar, arrebatando em suas negras garras, a vida preciosa de minha 2ª esposa, que também idolatrava. Ficaram vocês filhos queridos novamente órfãos da 2ª mãe. É ou não fatalidade, mais este sucessivo lutuoso? Isto são golpes que esmagam um coração que só palpitava de amor por esse ser tão delicado que era o encanto de minha velhice, e que se sacrificou amar-me, numa idade em que a juventude parece que não se poderá unir com tanto amor a um ser já um tanto adiantado em anos. Eu, meus filhos queridos enviuvei aos 53 anos; tomo isto como expiação de faltas que as cometi, do que não as tenho consciência. Deus, em seus decretos. que se amenize de nós. Só desejo educá-los, criar os menores e vê-los todos colocados; assim completo minha missão na terra. Deus saberá o que deve fazer a respeito de meus sofrimentos.." " Recomendo a todos os meus filhos: honradez, probidade, caridade. Suas irmãs deverão ser do vosso maior cuidado, zelando a sua honra, e tudo o mais que for em benefício delas." (Memórias Manuscritas de André Gudolle"

Arquivo Pessoal de Marilia Gudolle C. Göttens

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Ancestrais de Deuclydes, Djalma, Delminda, Djalmira e Diulmira Gudolle

(1850) PAIS
6g. (5i+5j) André Gudolle (Itaqui, *1859-1929) e 6h. (5l+5m) Benvinda Nunes Pereira (RS, *1863)

(1820) AVÓS
5i. (4e) Jean Gudolle (Lescurrie, França, *1824) e 5j. (4f+4g) Virgínia de Vargas Martinez (RS, *1831)

5l. (4h+4i) Galdino Francisco Nunes Pereira (Herval, RS *1835) e 5m. (4j+4l) Camila Nunes Vieira (Herval, RS *1883) (primos irmãos), ver abaixo.

(1790) BISAVÓS
4e. Guillaume Gudolle (Lescurrie, França, *1799)
4f. Andrés Martinez (Espanha, *1791) e 4g. Flaubiana de Vargas (Rio Pardo RS *1796)

4h. (3b+3c). David Francisco Pereira (Herval, RS *1805 - Batalha do Seival 10 de setembro de 1836, em 1828 escreveu o ABC da batalha do Passo do Rosário, contra a Argentina) e 4i (3d+3e) Cecília
Assumpção Vieira Nunes (Herval, RS *28/7/1805)
4j. (3f+3g) Jose Caetano Alves Vieira (Herval, RS *1806) e 4l. (3d+3e) Ludovina Maria Vieira Nunes (Herval, RS *28/9/1806)

(1760) TRISAVÓS
3b. (2a+2b) Francisco Pereira Machado (Herval, RS *1755) e (2i+2j) 3c. Juliana Rosa de Jesus (RS, *1775)
3d. ( 2c+2d) Bonifácio José (de Quadros) Nunes (Rio Pardo, RS *21/8/1769 + Herval, RS 14/11/1863) e e 3e. (2e+2f) Gertrudes Bernarda de Assumpção ( Santo Ant. da Patrulha RS, *6/10/1777, +Pelotas RS, 22/02/1865)
3f. (2g+2h) José Caetano Vieira (Rio de Janeiro, Freguesia de São José, *1770) e 3g (2i+2j). Maria Eugênia dos Prazeres Martins ( Freguesia N.S. da Conceição do Estreito, RS, *1755)

(1730) TATARAVÓS
2a. Sebastião Pereira de Morais (Açores, *1740) e 2b Isabel de Jesus (*Machado) ( Açores,*1740) (casal açoriano, com terras na freguesia do Estreito, recebidas em 1774)
2c (1a+1b). Antônio Nunes (Curvello) ( Ilha Terceira, Açores, *1739) e 2d. (1c+1d ) Ana Maria do Nascimento) ( de Ávila Silveira de Quadros) ( casal açoriano como meeiro nas terras do Rincão de Cristóvão Pereira, na Freguesia de Mostardas RS, em 1779)
2e. (1e+1f) José Francisco Vieira (Barroso) (Ilha de São Jorge, Açores, *1747) e 2f. (1g+1h) Ana Rosa Joaquina (Machado de Siqueira) (Ilha de São Jorge, Açores, *1747) ( casal açoriano com terras na Freguesia de Santo Antônio da Patrulha, RS)
2g. Francisco Caetano Vieira (natural de Santana do Parnaíba, SP, batizado na Freguesia de São José, Rio de Janeiro, *1740) e 2h. Rosa Joaquina de Jesus (Freguesia da Enseada do Brito, SC, *1745) (dos primeiros moradores na região do Herval RS, em 1770).
2i. Manoel Joaquim Martins de Carvalho( Rio de Janeiro, *1740) e 2j. Maria Inácia de Jesus ( Rio Grande, RS *1740), (nascida logo depois da fundação da Vila do Rio Grande, em 1737). Dos primeiros moradores na região do Herval RS, em 1770)
2l. 1i+1j) Antônio José de Vargas (*1720, Açores) e 2m ( 1l+1m) Maria Josefa Machado ( *1724, Ilha Terceira, Açores) ( casal açoriano com terras na Freguesia de Santo Amaro RS)

(1700) QUINTO-AVÓS
1a. Antônio Nunes Curvello ( Ilha Terceira, Açores, *1709) e 1b. Maria da Conceição
1c. João Silveira de Quadros ( Ilha de São Jorge, Açores, *1709n) e 1d. Maria de Ávila
1e. Antônio Teixeira Barroso ( Ilha de São Jorge, Freguesia de N.S. do Rosário, Açores, * 1717) e 1.f Maria Vieira Machado.
1g. Amaro Cardoso de Siqueira ( ilha de São Jorge, Freguesia de N.S. das Neves. Açores, *1717) e 1h. Maria Vieira Machado
1j. Domingo Dutra (*1690, Freguesia de São Miguel, Ilha do Faial, Açores) e 1j Francisca de Vargas (*1695, Freguesia de São Miguel, Ilha do Faial, Açores)
1l. Manoel Machado Neto (*1694, Ilha Terceira) e 1m. Maria das Candeias ( *1699, Ilha Terceira, Açores)

Arquivo Pessoal de FCG e Marilia Gudolle C. Göttens

A Voz da Estância - Deuclydes Gudolle

A saudade faz tudo recordar, noite, luar...
O gado a ruminar deitado na porteira do curral,
Um touro berra ao longe em desafio
Um bagual junto a relinchar bravio,
Porque o relincho sentiu de outro bagual...

Tudo isso o gaúcho está a escutar,
A voz da estância, a noite, o luar...
Sente o quero-quero que desperta,
O gaúcho sabe, quero-quero não mente
Ele tem o pouso certo alí na frente
E é da estância, o sentinela alerta...

E houve-se o rumor de alguém passando
É um peão que do bochincho vem voltando
E quer chegar cedo ao galpão...
Na manhã estão todos na estância de rodeio,
E não quer que digam que na tala veio
E que não pode tomar um chimarrão...

Tudo isso o gaúcho escutou,
Também tarde chegou, tarde dormiu,
Aos poucos, a voz da estância emudeceu
E o luar, qual um lençol encantador,
Sobre todo o campo se estendeu...

Madrugada, o galo no terreiro canta,
A aurora no horizonte se levanta
Acordando o dia de seu sono de luz..
E a luz, na sua eterna claridade,
Ilumina o mundo, a imensidade
Dando sombra e vida que conduz...

E o gaúcho acorda alegre e satisfeito,
Vai ao galpão, e o mate já está feito
E ainda bufa no palanque um redomão...

Esta vida de estância, jamais cansa
E sempre revive uma lembrança
Na saudade de um velho coração.

Uma Fortaleza "Bela União"

"Voltava ao seio maternal da terra que eu amava. Bela União era uma fazenda e uma Fortaleza. Construída toda de pedra, tinha, nas paredes externas, a espessura de 80 centímetros, e, em cada canto de oitão, um alvéolo secreto para colocar a arma de guerra, em caso de assalto. Dezenove amplas salas davam ao velho solar a atmosfera de grandeza, naquelas solitudes em que o conforto era palavra ausente dos raros dicionários. No centro, fechado, um pátio árabe, que separava o solar em dois blocos e, na frente, um muro, onde se erguiam lanças altas e pontiagudas que não permitiam a escalada do homem mais audaz.
Fôra construída por ANDRÉ GUDOLLE, filho de um francês. Herança, portanto, de um espírito requintado, em meio bárbaro, onde poucas construções escapavam dos ranchões de paredes de barro batido e teto de capim Santa-fé. Quando muito, paredes de tijolos ,teto baixo e beiras pendentes, por onde se derramava a água das chuvas."

Texto do Livro "Terra Xucra", de Manoelito De Ornelas, Ed. Sulina , 1968, ao retornar à sua terra de Itaquí/RS.