REGISTROS, GENEALOGIAS, HISTÓRIAS E POESIAS...
a fim de preservação da memória de nossos ancestrais
MARILIA GUDOLLE C. GÖTTENS

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

A Panela de Pitanga

Este registro também foi feito pela Rôsina (parente) na mesma época do já postado " Um caso de amor" sobre o romance de Iaiá e Dico. Será transcrito também conservando sua ortografia.

"Esta história que lhe conto minha amiga é como tantas outras. Ela me contou assim: Fui passear em Santo Izidro com meus parentes, visitar amigos e também parentes, passamos o rio Itú, e do outro lado estava a fazenda, lá chegamos. Sr. André Gudolle nos recebeu muito amavelmente, estava lá sua filha mais velha, D. Malvina, bonita ainda, parecia uma rosa branca. Também o casal a quem fomos visitar Iaiá e Dico tinham só o pequeno Raul, e ele, o belo rapaz, de 16 anos, mas tinha o tamanho de um moço de 20 anos, éra lindo! Éra o mais moço do segundo casamento de Sr. Gudolle.
A tarde fomos todos no carro grande passear no mato, levei uma panela para encher de pitangas, ele subiu na pitangueira e baixou os galhos para eu colher, colhi todas as do galho e não enchi a panela e disse a ele baixa outro galho, ele chegou a beira dos galhos junto a mim e disse assim, queres casar comigo? eu fiquei surpreendida, éra uma tolinha com cara de anjo e de amor nada entendia, ele disse, é serio, eu posso me casar, tenho umas terras de herança de minha mãe e vou fazer uma colonia e nos casaremos, não é já depois de tudo arrumado, eu disse, mas teu pai não vai querer, tu és uma criança, e eu não tenho ainda 15 anos, ele disse não importa que ele não queira eu quero, já sou um moço, ele quer que eu vá estudar em Porto Alegre, sê eu for não é por muito tempo depois eu volto para casar contigo, eu disse que esperaria depois que ele estudasse e pedi-lhe que não dissese nada a nimguem.
Era tão lindo aquele entardecer a beira do mato o canto dos passaros e o perfume das flores, quando voltamos Sr. Gudolle estava jantando alegre, tomando um prato de farinha de bijú com leite que muito gostava, e perguntou então, menina gostou do passeio, das pitangas? Eu disse que sim, que trazia uma panela cheia, no outro dia fomos visitar e conhecer a cachoeira do Itaimbé, outro belo passeio ficamos muito tempo a ver a agua a correr lá de cima fazendo cachueira, ficamos la uma semana, voltando a São Jorge Ele foi de pensionista no colegio do Sr. Tabajara, ficava perto de São Jorge, todos os sabados ele lia lá passear, eu não sabia definir o que sentia, vontade de vel-o e ficava triste quando ele ia embora, e pensava, agora só no sabado, ele sempre me trazia livros e poesias eu folhava os almanaques velhos da fazenda procurando charadas, jogavamos as damas e nimguem desconfiava nada, mas não foi como o romance a moreninha, voltei para a cidade, soube ele sempre veio estudar em P.Alegre, e nunca mais o ví, seu pai soube de suas intenções e disse a escolha é boa, mas é muito novo tem de estudar primeiro, até oje não me conformei com o seu fim, tenho ainda vontade de chorar quando me recordo, ele podia, devia ter sido feliz comigo ou com outra, não sei se o amei, talvez, não sabia comprehender, o coração foi feito para amar, se ama uma, duas, tres vezes ou talvez mais, mas a recordação que guardo dele é a mais bela, a canção que se eterniza como já disse naquele entardecer a beira do mato, o canto dos passaros, a canção que fica na lembrança, o canto dos passaros suave como era a sua voz. Quanto tempo se passou e eu ainda me lembro, e eu oje já sou uma avosinha se ele vivesse tambem seria por certo oje um avosinho. Mas Deus quiz que ele ficasse sempre assim, como a figura de São Jorge belo e forte na minha recordação, é assim minha depois desta bela e inocente história outras se seguem que ficam para eu contar de outras vêzes, e se não fosse aquela panela de pitangas motivo para eu contar essa história eu não contava, mas não conte a ninguem porque então não lhe contarei outras mais compridas, ela me disse que quando vai a Igreja olhando, olhando, a imagem daqueles santos que deixaram a terra tão cêdo, é a imagem dele que ela recorda, na figura de São Jorge ou de São Expedito, belo e forte, é a tua figura que eu vejo belo "São Quide", ainda te pedirei uma grande graça.
Rôninha
Tudo passa nessa vida só fica a infinda saudades do que foi belo e bom".
Porto Alegre/1961.

Arquivo Pessoal de Marilia Gudolle C. Göttens

Nenhum comentário:

Postar um comentário