REGISTROS, GENEALOGIAS, HISTÓRIAS E POESIAS...
a fim de preservação da memória de nossos ancestrais
MARILIA GUDOLLE C. GÖTTENS

domingo, 17 de julho de 2011

Breve História da vida de Bonifácio José Nunes e Gertrudes Bernarda de Assumpção - Ascendentes de Maria Benvinda Nunes Pereira Gudolle


As atividades econômicas desenvolvidas em torno da povoação de Herval eram variadas, condizentes com a época e com as características da região.
O extrativismo da erva-mate nos abundantes ervais ali existentes a ponto de sua destruição completa, indicam ter sido este um negócio importante para os novos povoadores e talvez, sua primeira fonte de rendimento.
BONIFÁCIO JOSÉ NUNES e sua esposa GERTRUDES BERNARDA DE ASSUMPÇÃO, segundo Costa Medeiros, foram um dos maiores plantadores de trigo na região, na sesmaria sobre o Arroio Grande. Ali também cultivavam o milho, o feijão e a mandioca, tendo Bonifácio um engenho onde também fabricava a farinha. Também há informações de que as quintas de laranjeiras, limoeiros, bergamoteiras, marmeleiros e pessegueiros se constituiam em acessórios indispensáveis nas estâncias.

A criação de ovelhas fornecia a lã para o artesanato caseiro do vestuário.
O gado era numeroso nos campos abertos, com ricas pastagens naturais, mas dele apenas o couro era aproveitado em escala comercial. O resto se perdia. A carne servia apenas de alimento às famílias locais, já que não havia conhecimento de como conservá-la. A vida pastoril,
mais segura, começou aos poucos a substituir as incertezas do trabalho agrícola. O boi e o arado passaram a dar lugar ao cavalo e ao laço.
A invasão de Portugal pelas tropas francesas, em 1807, determinou que o Príncipe Regente D.João VI se transferisse para o Brasil com toda a Família Real.
Em 25 de maio de 1810, uma revolta em Buenos Aires derruba o vice-rei Baltazar Hidalgo de Cisneros e proclama a independência das províncias do Rio da Prata. O general Francisco Xavier Elio, sediado em Montevidéo, fica fiel à Metrópole e pede auxílio ao Rio de Janeiro, que estava em bons termos com a junta de Sevilha. O apelo tem a melhor acolhida, pois de um lado D.João VI desejava a Cisplatina e por outro Dona Carlota Joaquina ambicionava uma coroa para si, no Rio da Prata.
Surge assim, a campanha de 1811, com o denominado Exército Pacificador, comandado por D.Diogo de Souza, depois conde de Rio Pardo.
BONIFÁCIO JOSÉ NUNES, então com 43 anos de idade, não tomou parte nestas lutas. Mas seus filhos Pedro José Nunes e Jerônimo José Nunes integraram o esquadrão organizado no Herval, que tomou o nome de Voluntários do Rio Grande. Ainda faziam parte desta força militar Astrogildo Pereira da Costa, João da Silva Tavares, futuro visconde de Serro Alegre e Davi Francisco Pereira,ambos genros de BONIFÁCIO JOSÉ NUNES, Pedro Muniz Fagundes, Pedro Canga, Camilo dos santos Campelo,José Amaro da Silveira,Hilário Amaro da Silveira,Serafim da Silva Tavares,Reduzindo Vieira Nunes,Genuíno Dutra Fagundes, entre outros, sob o comando do major Antônio Carneiro da Fontoura, natural de Encruzilhada.
A intervenção de D. Diogo de Souza na Banda Oriental, acabou dando aos portugueses o território localizado entre os rios Quaraí e Ibicuí, até então de domínio contestado.
Bagé e Santana do Livramento foram duas cidades que tiveram origem nos acampamentos militares das tropas concentradas e arregimentadas, no início da expedição.
O conde de Rio Pardo, deixou o governo do Rio Grande do Sul em 1814, sendo substituído por Luis Teles da Silva Caminha e Menezes, Marquês do Alegrete.
A paz não durou muito tempo.
Em 1816, começou a segunda intervenção armada da monarquia portuguesa na Banda Oriental, estimulada pelos argentinos que queriam aniquilar com Artigas.
Buenos Aires desejava a incorporação do território oriental às Províncias Unidas do Rio da Prata. Artigas se opusera, preferindo os riscos de uma guerra contra os portugueses, para manter seu país livre, à certeza den entregá-lo pacificamente aos argentinos, sem perspectivas de liberdade.
Assim, D.João VI, resolve invadir o território uruguaio. E assim as lutas vão sucedendo. Assume a governança da província de São Pedro, em 1818, o conde da Figueira, José Maria Vasconcelos e Souza.
Finalmente, a 22 de janeiro de 1820, Artigas é derrotado, refugiando-se no Paraguai, onde pede asilo.
O desfecho desta campanha traz como consequência a anexação da Banda Oriental, que passa ao domínio de Portugal, com o nome de Província Cisplatina, a 18 de julho de 1821.
Em 7 de setembro de 1822, já D .Pedro decreta a separação absoluta da metrópole portuguesa.
Diz Costa Medeiros, referindo-se a este ato:" Os ervalenses, sob o domínio português, tinham obtido tudo quanto lhes era lícito desejar. Muitos ervalenses vinham com as insígnias do exército português, cobertos de glória, garbosos oficiais, receber os agradecimentos dos vizinhos, os velhos das campanhas do continente que a idade tinha privado das glórias dos que chegaram e das mulheres que não podiam marchar para a guerra."

Nunes Vieira, José Cypriano - Edifunba - 1988

O Genearca Bonifácio José Nunes - Fundador do Herval

Em novembro de 1773, com o objetivo de destruir o forte de Rio Pardo, o que facilitaria a conquista de todo o Continente de São Pedro pelos espanhóis, à frente de um contingente armado de quatro mil homens, partiu de Montevidéo o governador de Buenos Aires, D.Juan José de Vertiz Y Salcedo. Estes planos foram frustrados pelo notável Rafael Pinto Bandeira e seus companheiros.
O baluarte de Rio Pardo, com poucos defensores e pequena artilharia, não tinha condições de oferecer resistência ao assédio dos invasores. - D.Vertiz Y Salcedo, de passagem pela região de Bagé, mandou erigir um forte num local elevado, e deu-lhe o nome de Santa Tecla, deixando ali uma guarnição espanhola.
As hostilidades tiveram início com o ataque surpresa de Rafael Pinto Bandeira sobre as tropas de D. Antonio Gomes acampadas no arroio Santa Bárbara, destroçando-as completamente e aprisionando o comandante. Esta importante ação ocorreu a 02 de janeiro de 1774. Poucos dias depois, Pinto Bandeira atrai a perseguição do exército de D. Vertiz Y Salcedo, conduzindo-o para uma armadilha na região de banhados de Pantano Grande e obtém aí a importante vitória de Tabatingaí.
O marechal espanhol chega frustrado a Rio Pardo, a 17 de janeiro de 1774. O governador José Marcelino de Figueiredo, usando de astúcia, faz troar a artilharia mudando as peças do lugar para dar a impressão de ter mais canhões do que realmente tinha. Com isso, ilude os espanhóis já desanimados por duas derrotas consecutivas que desistem de atacar Rio Pardo e iniciam a retirada sempre molestados por Pinto Bandeira. Este na passagem do Rio Camaquã, acossa-os duramente.
Os portugueses com os sucessos alcançados garantiram a posse do Rio Grande do Sul.
No ano seguinte, Pinto Bandeira toma o forte de São Martinho do Monte Grande, abrindo as portas à conquista do território das Missões.
Em 26 de março de 1776, Pinto Bandeira consegue a rendição do forte de Santa Tecla, arrasando-o totalmente.
A corte de Portugal parece despertar e sentir a necessidade de garantir a fronteira meridional de sua maior colônia. Organiza um grande exército e entrega o comando ao tenente-general José Henrique Bohm, com a finalidade de retomar a vila de Rio Grande. Daí os espanhóis são expulsos em abril de 1776.
Quando a situação se revertia favorecendo os portugueses, é assinado o tratado de Santo Ildefonso, em 01 de outubro de 1777, lesivo a Portugal que ficava sem a Colônia do Sacramento e as Missões, tendo em compensação o reconhecimento da posse de Rio Grande.
Os portugueses e sobretudo os gaúchos, não se conformaram com este acerto das metrópoles e opuseram inúmeras dificuldades à demarcação das fronteiras.
Pelo tratado de Santo Ildefonso, a linha divisória no extremo sul seria a vertente mais ao norte, que desembocasse na Lagoa Mirim, e a convenção de Lisboa fixou-a como sendo o Piratini.
Assume interinamente o governo da Capitania de São Pedro, a 31 de maio de 1784, o brigadeiro Rafael Pinto Bandeira. Considerando que o Piratini não é afluente da Lagoa Mirim, e sim do São Gonçalo, dá uma melhor interpretação ao pacto firmado entre as metrópoles. Buscando a primeira vertente volumosa que deságua na Lagoa Mirim, muda o acampamento militar do passo Maria Gomes, no rio Piratini, para a serra do Herval, nas nascentes do Arroio Grande. Apesar dos protestos dos espanhóis, esta guarnição do Regimento dos dragões permaneceu ali por dezessete anos (1784-1801).
Este acampamento militar deu origem à cidade de Herval do Sul. As primeiras casas tinham parede de torrão de pau-a-pique, cobertas de santa-fé e
começaram a ser construídas em 1786.
Os habitantes que ali se fixaram eram quase todos antigos guerrilheiros do Corpo de Dragões, companheiros de luta de Rafael Pinto Bandeira. Entre eles estava o genearca BONIFÁCIO JOSÉ NUNES, natural de Rio pardo, com o posto de cabo de esquadra e que ao chegar ao acampamento tinha 16 anos. Quando o destacamento se retirou, em 1801 para atacar a Guarda de Santo Antônio da Lagoa, guarnição espanhola na embocadura do rio Jaguarão por ordem do governador da província do Rio Grande, Sebastião Xavier da Veiga Cabral da Câmara, BONIFÁCIO JOSÉ NUNES permaneceu na povoação e estava nessa ocasião com trinta e três anos de idade. O seu chefe Rafael Pinto Bandeira, já havia falecido na cidade de Rio Grande em 9 de janeiro de 1795.
Os seus antigos companheiros de armas, com o estímulo e a anuência de Pinto Bandeira, que extrapolou as suas atribuições para isso, haviam se estabelecido nos campos neutrais, entre o Arroio Grande e o rio Jaguarão. Pinto Bandeira previa que este rio seria um dia a linha divisória entre Portugal e Espanha.
Entre os que foram contemplados com glebas nestas áreas litigiosas estava nosso genearca BONIFÁCIO JOSE NUNES, a quem estava reservado o principal papel de FUNDADOR DA POVOAÇÃO, bem como José da Silva Tavares, Jose Teixeira Pinto, Boaventura Pereira da Silva, Antonio Madruga de Bittencourt e Antônio dos Santos Abreu. A propriedade de BONIFÁCIO JOSE NUNES estava localizada no Arroio dos Nunes.
Cerca de cinquenta chefes de família tornaram-se habitantes urbanos na nascente da povoação. Por iniciativa de BONIFACIO, os moradores se organizaram em sociedade, para adquirir o terreno onde estava edificada a povoação, uma vez que com a retirada do destacamento militar, o núcleo do vilarejo em formação sofreu ameaça de aniquilamento. O proprietário do terreno ocupado pelos moradores Antonio Rodrigues Barcelos, requereu o despejo dos habitantes como intrusos, o que levou BONIFÁCIO e seus amigos a organizarem a tal sociedade. Posteriormente, cotizaram-se e compraram a área que foi doada à Irmandade Nossa Senhora da Conceição. Também reconstruíram a antiga capela do acampamento, consagrando-a São João Batista. Conseguiram provisão episcopal e nestas condições ficou constituída, em dezembro de 1805, a Freguesia de São João Batista do Herval.

Nunes Vieira, José Cypriano, Edifunba - 1988.

Cuentos da Tia Avó Dija (Djalmira Gudolle)

Contava a Tia Dija, uma história sobre os dois filhos naturais de meu Bisavô André Gudolle: "Quando ele casou com a Benvinda, escondeu os dois filhos naturais num rancho, nos fundos do campo, sem coragem de falar deles para sua noiva. Após o casamento, Benvinda foi residir com ele na estância. Um dia, ele saiu e ao voltar, encontrou Benvinda com os dois filhos naturais à porta da casa, esperando-o. Alarmado, perguntou: Quem são estas crianças, Benvinda? E ela respondeu: "São nossos filhos". E encerrou-se a questão. "Se non é vero, é bene trovato".

Arquivo Pessoal de FCG e Marilia Gudolle C. Göttens

André M. Gudolle e Maria Benvinda Nunes Pereira

Após a morte inesperada de Jean, André e sua mãe trabalharam por vários anos, conseguindo salvar a casa no município de Itaqui, e André firmar seu crédito comercial. " De 1869 a 1895, negociei só para salvar o crédito de meu digno pai. Daí para cá foi então que tratei de angariar bens por meio de negócio de comprar e vender mercadorias"... ( Memórias Manuscritas de André Gudolle).
Em 1875, André se estabelece em São José, 1º Distrito de São Borja, onde viveu 13 anos. Ali adquiriu campos, gados e um valor em dinheiro. Adquire também um Rincão de campos de José Floriano Machado Fagundes,o qual tinha a antiga denominação de "Rincão do Inferno".Esse Rincão fazia fundos no arroio Ibipuitã, onde nasce o mesmo arroio.
"Pelos anos de 1881, 1882, Galdino Francisco Pereira, cidadão Riograndense, veio com sua família do Município de São Gabriel residir na fazenda Santa Rita, que é situada no 1º Distrito de São Borja, que foi outrora pertencente ao Conde de Porto Alegre. Ali travei relações com sua família que era composta de sua senhora Dona Camila Nunes Pereira, suas filhas Dona Maria Benvinda, Dona Julia Malvina, Honorina, moças e duas meninas: Cecília (Sitita) e Maria Leduvina (Duda), e seus filhos Maximiano Alfredo Pereira, já moço e Galdino Eleutério Pereira, menino; de cujas relações resultou agradar-me das moças, a mais velha, com a qual casei-me na noite de 24 de maio de 1844" ( Memórias Manuscritas de André Gudolle).

Arquivo Pessoal de Marilia Gudolle C. Göttens