REGISTROS, GENEALOGIAS, HISTÓRIAS E POESIAS...
a fim de preservação da memória de nossos ancestrais
MARILIA GUDOLLE C. GÖTTENS

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Poesia - Deuclides Gudolle

Meu Coração

Meu coração é um velho jardim deserto
As flores jazem murchas no chão
E foi num jardim tão lindo ao céu aberto
Onde floresciam sonhos em profusão

As tempestades da vida em mar incerto
Que tudo arrasa as iras do tufão
Arrasaram sem dó, deixando descoberto
As tristezas da vida, meu velho coração

E o velho jardineiro já alquebrado
Não podendo reconstruir, velho e cansado
Tudo contempla com tristeza e dó...

E reafina a velha lira, a companheira
De tantos sonhos e ilusões fagueiras
Para os últimos cantar, tristonho e só.

DELLE - Santa Thereza, 7/9/1937

sexta-feira, 17 de junho de 2011

29 anos no Rio Grande do Sul - Jean Gudolle - Curto tempo para muitos sonhos...

Jean Gudolle e Virgínia Martins Gudolle, tiveram três filhos: André, meu bisavô, nascido na Vila da Cruz Alta, (RS), a 4 de Fevereiro de 1852, Rosalina nascida provavelmente no mesmo lugar de André, no ano de 1853 e falecida em 1866, em Itaqui (RS), e Marcolina, nascida também no mesmo lugar, no ano provável de 1854, e falecida em Itaqui (RS) com dois anos.
"Jean, meu pai, tranfere-se das Missões por volta de 1855 para a cidade de Itaqui (RS), (nessa época era Freguesia). Ali fizeram uma pequena fortuna, tendo por ofício uma padaria e casa de comestíveis, ou venda, segundo o uso. Esta pequena fortuna foi quase absorvida com uma questão a qual não merecia gastar cabedais. No entanto, (capricho) levou meu pai Jean a ponto de ficar com uma casa na dita cidade de Itaqui, que hoje pertence aos meus filhos Djalma e Deuclydes. Sobre este assunto, adiante darei mais explicações.." (Memórias Manuscritas de André Gudolle, em 14 de Fevereiro de 1897).
Devido à questão referenciada por André, Jean transfere-se com sua família para os ervais de Santa Rosa mais ou menos pelos anos 1861 e, depois para Campos Novos até meados de 1865, com o objetivo de negociar com fazendas.
No final de 1865, retornaram para Itaqui (RS), após a rendição dos paraguaios em Uruguaiana. Neste ano falece Rosalina. A família desgostosa, retira-se de Itaqui para a Campanha, negociando ainda com fazendas. "Os negócios corriam regular. eis que a mão fatal do destino nos bate em casa: é assassinado meu pai pelo bandido Claudio Picada, no dia 5 de Janeiro de 1869, andando ele mascateando. O assassino mais tarde, foi também vítima. Sem dúvida, Deus que tudo vê, faz justiça.
Fiquei órfão aos 17 anos, com minha extremosa mãe à meu cargo, a qual muito me ajudou a adquirir uma pequena fortuna, que mais tarde lhes pertencerá, como já vos pertence em parte." (dirigido aos filhos). ( Memórias Manuscritas de André Gudolle, em 14 de Fevereiro de 1897).

Arquivo Pessoal de Marilia Gudolle C. Göttens

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Poesia - Deuclides Gudolle


Ouvindo um Poeta

Eu também tenho saudades do pago
Das coxilhas de meu lindo rincão
Das tardes lindas, dos doces afagos
E das carícias de sua viração.
E de quando eu saia à passos largos
No cavalo de minha estimação
Eu ia tomar um doce amargo
Voltando mui tarde ao galpão.
Tudo isso recordo com saudade
Na certeza desta realidade
Do diferente meu viver de agora.
Não sou mais o gaúcho que altaneiro
Cruzava sempre só, sem companheiro
Por aquelas noites lindas lá de fora...

DELLE Santa Thereza - 1949


domingo, 12 de junho de 2011

Nem Índia, nem Mestiça - Flaubiana de Vargas (Martinez)

Resultado da Ancestralidade Genética através de teste de DNA, encomendado ao Laboratório Gene, em Belo Horizonte, por um primo Gudolle, pelo lado materno. A pesquisa foi feita segundo o método estabelecido pela UFRGS.
Este resultado serve para os filhos de meus irmãos, nossos tios e tias maternos e para todos os nossos primos por linha materna, independentemente de grau.
Tomando-se por base Andrés Sebastian Martinez e Flaubiana de Vargas, bem como Jean Gudolle e Virgínia de Vargas Martinez (Nossa ancestralidade Materna) através do DNA mitocondrial, que passa de mãe para filhos e filhas e a ancestralidade Genômica, que detecta a percentagem de cada uma das três raças nos indivíduos, assim se apresenta: Ancestralidade Genômica: 99% europeu!! O 1% é residualmente distribuído em partes iguais entre ameríndios e africanos. Isto quer dizer que Flaubiana de Vargas Martinez não era nem índia, nem mestiça, como afirmava André Martinez Gudolle em suas memórias manuscritas. Se o fosse, a percentagem ameríndia do nosso perfil genético seria muito maior e não o sistematicamente residual. Talvez coisas de meu bisavô André, a procura de raízes profundas na terra gaúcha.
Ancestralidade Materna: Nosso perfil genético é do tipo U5, da raça branca. Formou-se há cerca de 50.000 anos na Ásia Central, em algum lugar entre a Turquia e a Ucrânia.
Apenas 3% dos brancos brasileiros o tem. Na Europa está difundido por todos os países, em maior ou menor quantidade assim como pela Ásia Central, Irã, Afeganistão e Índia!! Ou seja, exatamente o extenso território ocupado pelas línguas indo-européias.
No caso, a pesquisa genética confirmaria a idéia de que o "proto-indo-europeu", idioma de onde viriam todas essas línguas, teria origem nos "kurgans", povo que vivia há cerca de 5.000 anos AC, justamente em algum lugar entre a Turquia e a Ucrânia (Mallory, In Search of The Indo-Europeans), livro anterior à pesquisa genética), de onde se teriam espalhado, a partir do sexto milênio antes de Cristo. Portanto, somos indo-europeus pelo lado materno.

Arquivo Pessoal de FCG e Marilia Gudolle C. Göttens

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Cuentos da Tia Avó Dija (Dejalmira Gudolle)

Minha Tia avó Dejalmira Gudolle Cacciatore era irmã de meu avo Deuclides, a qual em outra oportunidade postarei sobre a descendência de Jean e Virginia Gudolle, incluindo-a na árvore de Costado.
Pois Tia Dija, como assim a chamavam, era neta de Jean e Virgínia, e assim se referia sobre seu avô Andre Sebastian Martinez: ..."ele teria fugido para cá, porque era "carlista" (um grupo de espanhois que queriam pelos anos em que Virgínia nasceu, colocar um certo príncipe Carlos, no trono espanhol e falharam.) Para fugir, ele inicialmente se escondeu em um tonel vazio que içaram no navio que veio até o porto do Rio Grande. Ele era "caballero de españa", a mais baixa "nobreza", pois era qualquer homem que tinha suficiente dinheiro para armar um cavalo. Então, o suzerano do lugar lhe dava um escudo para que ele fosse distinguido nas batalhas, com um desenho, por isto chamado de "escudo", que as famílias dos cavaleiros assumiram.."

Em outra ocasião, ao se referir sobre Flaubiana, sua avó: " Mestiça das Missões que tirava a roupa na frente de todo mundo para tomar banho na sanga ao ser laçada de volta pelo chocado "caballero espanhol".

Arquivo Pessoal de Marilia Gudolle C. Göttens e FCG.

Jean Gudolle e seus primeiros anos no Rio Grande do Sul

Jean Gudolle vem para o Rio Grande do Sul e casa por volta de 1850 na Villa do Divino Espírito Santo da Cruz Alta com Virginia Martins (Martinez), nascida em Rio Pardo (RS) no ano de 1829 e falecida em Itaqui (RS) em 29 de Junho de 1891. Virginia era filha do espanhol Sebástian Andres Martinez e de uma missioneira chamada Flaubiana de Vargas, conforme memórias manuscritas de meu bisavô Andre Martins Gudolle.
Sebástian Andres Martinez e Flaubiana de Vargas, conforme pesquisa de Zelce Mousquer, registraram uma hipoteca na Villa da Cruz Alta no ano de 1856, bem como nos registros de nascimento de seus netos em Santo Ângelo (RS), foi encontrado o nome por Andre Martins já aportuguesado. Informa também Zelce Mousquer, que no ano de 1873, este casal já eram falecidos.
Além dessa filha Virgínia, Sebástian Andre e Flaubiana tiveram mais oito filhos: Isidoro, Ana, Ana Amélia, Isolina, Vicentina, Fabiane, Teresa e João Damasceno, sendo este pertencente a linha ascendente da pesquisadora e historiadora acima nominada.

Arquivo Pessoal de Zelce Mousquer e Marilia Gudolle C. Göttens

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Poesia Deuclides Gudolle

À minha Iaiazinha
Que recordações tu me trás da mocidade
Desse tempo longe e tão distante
Eu era uma criança e vivia delirante

E sonhava com esse amor que era verdade
E lembro-me de tudo... não esqueço nada
Nem da velha tâmara que lá havia
E quando a via, de longe já sabia
Que era ali que vivia a minha amada...

E lembro-me ainda quando na salinha
Brincáva-mos escrevendo numa pedra
Perguntando à sorte, se serias minha...

E a sorte não mentiu, hoje estou vendo
E naquela pequenina Iaiazinha
Que na saudade de ti estou revendo...

DELLE Revolução, 1909


Poesia - Deuclides Gudolle


Castelo de Sonhos

Eu também avistei um castelo radiante
Povoado de sonhos, inundado de luz
Onde estava a glória a me acenar avante
Onde vive o saber que o destino conduz..

E deixei-me ficar qual calmo viandante
Que não apressa a chegar, e a divagar me pus
Veio a aurora, o dia, a luz bruxuliante
Veio a noite depois... e eu às trevas me expuz.

E embora eu lute nesta noite densa
Tateando e velho já sem crença
Alcançar procure esse castelo ideal...

E se me fosse dada uma nova jornada
Com que ânsia eu percorreria a estrada
Que conduz ao saber, essa glória imortal..

DELLE - Santa Thereza, 1929






terça-feira, 7 de junho de 2011

Poesias ( Deuclides Gudolle)


A partir desta data, serão postadas inúmeras poesias de meu Avô materno Deuclides Gudolle, as quais jamais foram publicadas, com algumas exceções em jornais, na década de 1930 e 1940 nas cidades de Itaqui, e Passo Fundo. A ortografia será conservada.

Taimbé


Lá na minha risonha mocidade
Cheio de vida, de ventura e fé
Eu também escutei, na realidade
A voz rouca e triste do Taimbé.
Minha vida era linda de verdade
Vivi cantando, descuidado até
Nem pensei que um dia esta saudade
Fosse cantar sombras que o passado é.
Tudo passou com o findar dos dias
Foram-se a mocidade as alegrias
Que esse tempo nos dá, tão desiguais...
Inda canta o Taimbé, na voz tristonha
Como a saudade que cantando sonha
Com a mocidade que não volta mais.

DELLE (Santa Tereza)

domingo, 5 de junho de 2011

Registro de Jean Gudolle junto ao Consulado Francês de Buenos Aires


Este registro nos foi gentilmente cedido pela pesquisadora e historiadora Zelce Mousquer.

Nº de Matrícula (junto ao Consulado): 4194
Sobrenome e data do Rregistro no Consulado: Gudolle - 14 de Outubro de 1844
Nome: Jean
Lugar de Nascimento: Lescurry, Cantão de Rabasténs (Departamento dos Hautées Pyrénées Midi Pyrénées)
Data de Nascimento: 1824
Estado Civil: Solteiro
Profissão: Jardineiro
Procedência: Chegado de Montevidéo
Último domicílio na França: Tarbes (capital do Departamento dos Hautes Pyrénées)
Características: Cabelos Castanhos
Fronte: Sem particularidades
Olhos: Castanhos
Nariz: Sem particularidades
Boca: Grande
Rosto: Oval
Motivo da Inscrição: Imigrante em Montevidéo nº 6248 (vindo de Montevidéo)
Assinatura:

Arquivo Pessoal de Zelce Mousquer

Ofício e Supostos motivos da vinda de Jean Gudolle para o Brasil

Na correspondencia passiva de meu Trisavô Jean Gudolle, este aparece como "metayer chez la Baronne de Saint-Pastou", meeiro (agricultor que ficava com a metade de sua produção, a outra para o proprietário) da Baronesa de Saint-Pastou (sobrenome gaúcho, mas os trabalhadores adotavam o nome dos patrões, pois os sem nobreza não tinham sobrenome, o que somente começou com Napoleão, quando foram adotados vários tipos de sobrenome, como o lugar de origem, a profissão, animais, etc...). Não foi encontrada a etimologia de "Gudolle".

As cartas para Jean Gudolle dizem que ele saiu do sul da França por ter brigado com um irmão. Sua mãe ao escrever, lhe disse que voltasse e se reconcilia-se; o que valia mais que "todas as piastras da América". Contudo, ele faz parte de uma grande emigração dessa região nos anos de 1840, ocasionada pela praga do "mildiu"e pelas grandes alterações sociais que passava a Europa de então, com a industrialização e o excesso de operários.

Conforme o ponto de vista de um primo estudioso no assunto, e por demais inteligente, mas que por razões pessoais prefere que seu nome não seja conhecido neste blog, assim comentou comigo em uma ocasião, a respeito de Jean:" Quanto ao nosso genearca, temos duas opções: 1) Ficar ao lado da pequena história, a "petite histoire" dos franceses, e aceitar as fofocas dos estancieiros que o viam como um agiota, para defenderem-se das mudanças sociais e econômicas que ele representava, e interpretar sua morte violenta como consequência de carater brigão e de seu agiotismo, o que nada mais é que uma forma de denegrir o credor, justificar o não pagamento de dívidas e impedir a mudança social".. 2) Ver o Jean dentro da história como um fator de desenvolvimento social e econômico daquela antiquíssima e subdesenvolvida fronteira (chegou lá nos anos de 1840), e ver sua morte como reação dos setores ultraconservadores à mudança social. Ou seja, ficamos com a "petite histoire" da família, ou incluímos o Jean em seu momento histórico. Prefiro esta, mas podemos ficar com as duas."

A decisão de Jean de passar para o muito mais estável Império do Brasil, com certeza foi influenciado pelo fato de el loco Rosas estar confiscando os bens dos imigrantes enriquecidos. Muitos fugiram Montevidéo e nosso Jean que chegou por Buenos Aires.

Os Gudolle se originaram (Jean) do movimento europeu de expulsão do excesso populacional para a América, solução boa para a exportação das contradições internas e da injustiça social que vinha com a concentração de renda e o desemprego originados pela aceleração da industrialização. Sua vinda para o RS, devemos ao Imperador e ao Rosas."

Arquivo pessoal de FCG e Marilia Gudolle C. Göttens

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Jean Gudolle em França

Corria o ano de 1824 em território francês, Departamento dos Hautes Pyrenées/Região Midi Pyrénées, no pequeno povoado de Lescurry, no Cantão de Rabastens. Nessa época, após a queda de Napoleão Bonaparte, os Bourbons reinstalaram-se no trono - Luís XVIII (1814-1824), Carlos X (1824-1830) - apesar de uma singela tentativa de restabelecimento do Império (Os Cem Dias) 1815. O predomínio na sociedade francesa da aristocracia fundiária, fiel às idéias do Antigo Regime, entretanto, provocou a queda de Carlos X (1830) e o advento de uma realeza burguesa. O reinado de Luís Filipe (1830-1848) foi marcado pela supremacia política e econômica da burguesia. A monarquia durou até a abdicação de Luís Filipe (1848). Durante este período, tendo perdido influência na Índia e no Canadá, a França começou a criar um império ultramarino no norte da ÁfricaOs anos que vão desde a insurreição liberal de 1830, representam a idade de ouro da burguesia francesa, anos em que triunfaram os princípios liberais e nacionalistas. Mas a aparência democrática do novo governo desapareceu progressivamente e o regime foi endurecendo, a fim de reprimir a oposição republicana e o crescente mal-estar das classes operárias.Nesse tempo, o crescimento urbano e a industrialização apontaram novas características ao movimento republicano, e a crise econômica de 1846, precipitou a revolução de fevereiro de 1848, que derrotou o governo de Luís Filipe.Lembremo-nos que os anos de 1845 e 1846 foram de péssimas colheitas, desencadeando uma crise agrícola em todo o continente, ou seja, um alto e vertiginoso custo de vida atirou à miséria grandes setores da população rural e reduziu drasticamente a sua capacidade de consumo de produtos manufaturados, sendo que a crise que agravou em França, foi muito mais industrial do que agrícola. De qualquer forma, atingiu duramente as massas populares, tornando-se extremamante sensível aos apelos revolucionários difundidos pelos socialistas, que, em 1848, conquistaram grande nitidez no cenário europeu.
O Cantão de Rabastens-de-Bigorre inclui vinte e quatro comunas, inclusive Lescurry.
País - França
Região - Medio Pirineus
Distrito - Tarbes

O crepúsculo da tarde já dava lugar às estrelas no infinito céu da pequenina aldeia serpenteada por inúmeras colinas e extensos bosques de magnólias e gramíneas.Do lado oposto ao crepúsculo, via-se extensas plantações de vinhas e campos cobertos de pastagens que serviam para o alimento dos ruminantes...As casas que formavam o pequeno povoado, não passavam de construções velhas, totalmente desprovidas do mínimo conforto.Ao centro da minúscula aldeia, erguia-se uma pequenina e singela igrejinha com seu sino à tocar em dias especiais: nascimentos, casamentos e mortes.Esa era Lescurry, uma comuna encravada lá no Cantón de Rabastens-de-Bigorre...Num dia qualquer do ano de 1824, o sino da pequena aldeia badalou inúmeras vezes... Em uma das pequenas casas, uma mulher dera à luz a um menino que passou a chamar-se JEAN.Pelo que se tem notícias, o pai de Jean chamava-se Guillaume Gudolle, um irmão que ainda não sabemos o nome, e uma irmã chamada Isabeau. O nome de sua mãe ainda desconhecemos.Longe estava aquele lugar de tudo quanto se podia alcançar. As crianças iam aprendendo o ofício dos pais, ou seja,os meninos faziam a lida do campo,da horta,das podas, e as meninas aprendiam a lida da casa. Assim cresciam e as famílias iam se formando...Jean aprendera com seu pai,o gosto de cultivar flores, e o fazia muito bem. Assim, nesse meio tosco, com pouco estudo e oportunidades, cresceu o nosso JEAN.

Arquivo Pessoal de Marilia Gudolle C. Göttens

Um Tal de Manoel Veríssimo

O "Tal Manoel Veríssimo da Fonseca foi comerciante na casa ainda hoje existente localizada na esquina da Rua Pinheiro Machado com a Cel.Pilar, onde há alguns anos atrás funcionava a Loja dos Cadore. Minha avó contava que um dia, Manoel arrumou cinco contos em dinheiro e rumou à Porto Alegre para fazer compras e surtir seu estabelecimento. Para a época, a quantia representava uma fortuna, que somente os detinham, eram os fortes comerciantes e abastados fazendeiros. Foi que Manoel lá pelas tantas, resolveu banhar-se no Rio Guaíba, o que fazia tranquilamente. Enquanto nadava nas águas do rio, um homem desesperado, financeiramente arruinado, aproximou-se furtivamente do local onde Manoel deixara suas roupas, e conseguiu surrupiar os tais cinco contos de reis. Terminado o banho, o patriarca verificou que no bolso faltava o dinheiro. Muito triste retornou à Cruz Alta, sem as mercadorias pretendidas. Precisou trabalhar com redobrada energia para, após algum tempo, recuperar-se do prejuízo daquela viagem. O tempo passou e seu negócio assim mesmo muito prosperou. O prejuízo fora coberto pelos lucros dos anos seguintes. Uns seis, sete anos mais tarde, Manoel Veríssimo retornou à Porto Alegre a fim de realizar outros negócios. Num determinado ponto da cidade, foi abordado por um homem de boa apresentação, mas desconhecido, que lhe perguntou o nome. Ao responder que era Manoel Esteves Veríssimo da Fonseca, o interlocutor disse: hà, de Cruz Alta, não é? E mais alguma conversa, convidou-o para almoçarem. Quando foi meio dia, Manoel Veríssimo é recebido na casa de um riquíssimo comerciante, o qual ofereceu-lhe um grande almoço, com as mais finas iguarias e tratando-o com excepcionais atenções, chegando ao ponto de constranger Manoel. Após a sobremesa, o anfitrião disse ao criado que levasse os cafezinhos no escritório, pois tinha importante assunto a falar com o cidadão Manoel. Sentados frente à frente, atõnito e curioso, ouviu seu interlocutor perguntar-lhe por certa viagem, há muitos anos em Porto Alegre, e um banho no rio Guaíba. Manoel então relembrou a frustração daquela viagem e mais espantado ficou quando o hospedeiro lhe disse: - O ladrão fui eu! Agora, quero dizer-lhe que estava arruinado e em vias de suicidar. Aqueles cinco contos de réis, salvaram a minha vida e com aquele dinheiro enriqueci. Agora, quero pagar-lhe cinco, dez vezes mais que aquela importância. E Manoel, ainda meio aturdido deixou apenas definir o seu caráter: - "Não, me devolva apenas os cinco contos, porque esse dinheiro salvou a vida de um desesperado". E apenas recebeu a quantia que perdera, formando-se sólida amizade entre ambos. O nome do dito cujo ficou em segredo. Manoel jamais contou o nome dessa pessoa.

Arquivo Pessoal de Marilia Gudolle C. Göttens