Esta estória será trancrita fielmente, respeitando a ortografia, sendo retirada de um caderno escrito com data de 30/6/1961, em Porto Alegre, assinado por Rôsina, a qual penso que seja parente de Dico ou Iaiá.
"Podia começar esta história como aquelas dos lindos contos da avosinha que diziam assim. Era uma vez um principe e uma princeza que muito se amaram. Mas prefiro dizer assim, era uma vez um inspirado poeta e uma bela e sonhadora jovem que muito se amaram. Todas as histórias tem sua origem e fonte de nascer, esta originouse na Fazenda de "São Jorge" de propriedade do Sr. Duarte Joaquim da Silva homem de figura simpatica que logo a todos conquistava por seu trato amavel e cavalheiro. D. Maria José sua esposa, a D. Zé como a chamavam era tambem uma Senhora muito simpatica dotada de muitos predicados e principalmente a fé e a bondade que havia em seu coração, a serenidade daqueles olhos azues bem diziam. Lembro-me do Sr. Duarte contar como conheceu D. Zé, foi em um baile na campanha, ao chegar a porta do salão, olhou ao redor vendo lindas moças, e perguntou, quem é aquela linda ruiva vestida de azul? ao que responderam, é a filha do fazendeiro José Antunes Monteiro, ao tocar um chote, foi convidal-a para dançar e daí começou o namoro que deu em casamento, na fazenda de São Jorge e viveram vida feliz crearam sete filhos que eram José, Rita, Isalina, Duartina, Esmerilda, Vicentina e Dorvalina,
Sr. Duarte mandou vir da cidade uma professora para lecionar as meninas e mais tarde comprou piano para as mocinhas aprenderem. Casou-se a Ritoca, a filha mais velha, houve grande festança na fazenda, veio musica da cidade e tambem muitos convidados. Ja nesse tempo começou o romance de Dêo e Iaiá, eram ainda duas crianças sem saberem o que queriam da vida, em seus pensamentos puros e inocentes nem comprehendiam a realidade da vida, sonhavam, foi um lindo sonho de amor que prolongou-se por muito tempo, e na ausencia mantinham correspondencia, ele esteve algum tempo em P.Alegre voltando depois para perto de seu grande amor. Muito do que escrevo sei contado por Celina que casou-se com o lindo moço filho do fazendeiro Sr. Duarte,
passaram-se muitos anos e o Sr. Duarte por motivo de saude foi morar na cidade entregando a fazenda para o filho, e o casamento de Iaiá e Dêo realizou-se e aquele sonho tornou-se realidade. Já no primeiro ano de casados nasce Raul, o casal estava feliz com o nascimento do lindo menino e depois quase todos os anos eram premiados com mais um que eram Mario e Guido, este não chegou a se criar deixando para sempre a lembrança no coração de seus paes mas logo outro anjinho veio encher o berço vazio suas filhas Benvinda, Maria, Ruth, Déa, Zilda e Ilsa. Benvinda desde pequena morava com a avó veio estudar em Porto Alegre e depois casou-se.
Sr. Deuclydes era então secretário da prefeitura de Itaqui, passaram-se muitos anos, quando receberam por herança a fazenda de nome Sta Tereza os filhos estavam ainda muito pequenos e eles foram habitar Sta Tereza la na casinha branca a sombra dos cinamomos.
Fui passear em São Jorge a grande casa que foi do Sr. Duarte, tudo se conservava como antes, a sala com sua antiga mobilia e seus retratos de familia que estava sempre feixada, aquela sala onde tantos pares valsaram e que tantas juras de amor por certo foram trocadas, tudo silencio e recordações de sonhos passados, no quarto ao lado que foi do antigo casal, e tambem foi quarto de noivado da filha mais velha, havia uma antiga mobilia, um grande guarda-roupa que guardava ainda um lindo vestido de noiva que foi da primeira filha que casou-se a Ritoca, era um vestido da cauda toda a frente da saia com babadinhos de gase frisada com fita picot a beira, um encanto de vestido/outro de seda azul cheio de fofos, era o vestido do 2º dia do casamento fiquei admirada de vêr que já naqueles tempos havia tanto luxo e gosto.
Havia tambem no quarto um oratorio que foi de D. Zé, com o simbolo do Divino Espirito Santo, éra quase permanente duas velas acezas em castiçal de prata, como nos tempos de seus antigos donos. D. Zé era devota do Divino Espirito Santo, contam que quando a fazendeira ia a cidade viajava em onibus de sua propriedade acompanhada de uma comitiva, era quando ia encomendar o enxoval para as filhas que iam casar, queria tudo do melhor e procurava a melhor modista da cidade e não regateava preço, pois pára isso ia bem endinheirada ela costumava viajar com uma caixinha sobre os joelhos com o simbolo do Divino Espirito Santo, uma pombinha coberta de fitas, cada fita uma graça recebida grande fé éra a sua e porisso foi bem feliz.
Na fazenda de São Jorge tenho bem presente acima da porta do corredor que dá para a sala de janta está creio que até oje a figura do glorioso São Jorge com a sua (duvindama) a matar o dragão colocado ali pelas mãs de Celina, o Santo nem só éra protetor nas casos de perigo mas tambem nos casos de amor, pois todos os romances ali começados foram felizes.
Sempre aos domingos iamos passear em Sta Tereza, já de longe via o Raul que anunciava correndo e pulando, alí vem tio José e tia Celina, e logo o gaúcho seu pai vinha ao encontro prazenteiro a dar as bôas vindas aos visitantes, logo a Iaiá assomava a porta da casa rodeada pelas creanças, era uma alegria a preta Benedita corria a matar galinha que fazia com molho pardo ou com arroz, assado de ovelha, panquecas que fazia muito bem feitas, doce de leite, pudim de leite e pão doce tudo muito bem feitos por Iaiá, depois do almoço eu ia me embalar no balanço de cedro que pendia dos cinamomos a frente da casa embalava ao colo uma por uma das creanças, Maria, Ruth e Déa. Sr. Deuclydes balançava a rêde fazendo bater a ponta dos galhos e eu gritava com medo de cair, a tardinha voltavamos projetando outro passeio.
Voltando a São Jorge eu escrevi uns versos que eram assim.
Santa Tereza a poetica morada
Sob a sombra de arvore copada
Me fez lembrar as lendas encantadas,
Que os poetas descrevem em baladas,,
Onde vive um par feliz ditoso
Em doce enlevo terno e amoroso
Felizes e ditosos
Ligados por afetos grandiosos
em alegria festiva da alvorada
Quando resôam no lar como gorgeio de ave
O riso candido de alegre criançada
Seja esse lar lugar sagrado
Templo de paz e amor,
Seja por Deus bendito e abensoado.
E assim foi, eu de versos nada entendia, escreví la na parede branca da casinha.
Raul tambem fazia versinho, lembro-me de um que era assim,
Eu tinha uma galinha preta
Que bota cinco ovos por dia,
Sê botasse meia duzia
Que fritada eu fazia...
Mas aquele santo viver tinha de mudar, teriam de ir para a cidade educar os filhos. Lá nasceram mais duas filhas, Zilda e Ilsa, Maria e Ruth lá estudaram e receberam seus diplomas de professoras, Raul estudou em Porto Alegre, e hoje é talentoso advogado, a vida corria normalmente.
Mas a cigana disse, que mudariam de cidade e que em Passo Fundo seriam felizes e assim foi, pois la educaram mais três filhas filhas, Zilda, Déa e Ilsa, também casaram três filhas. Mario quiz continuar a tradição de seus antepassados criando e plantando, casando-se tambem.
Ela a grande mãe lá tambem teve a fase dolorosa de sua vida, foi quando teve de criar seus netinhos, depois de criar oito filhos. Mas tudo venceu. Lucinha está criada e educada é oje uma linda moça, o netinho tambem ja é um mocinho, vençeu porque a fé anima sempre o seu coração.
De Passo Fundo para Porto Alegre
Hoje no sosego do lar gozam o merecido premio de suas lutas e sacrificios rememorando o passado, é como quem fez a volta ao mundo e volta ao ponto de partida, do altar para o altar, já bem perto da maravilhosa torre de ouro que em breve alcançarão, essa torre ornada pelos trofeus que são os diplomas e aneis de graus de seus filhos, e o diadema de pedras preciosas a ornar-lhes as cabeças prateadas, é o dinheiro que juntaram em toda a sua vida, e como a chuva que cai, que vai e que vem, e a chuva de ouro a cair, e o tesouro inesgotavel que juntaram para seus filhos, "o Saber".
Quando chegarem de volta junto ao altar, a marcha triunfal pode tocar e nada temais, porque uma voz os dirá, sigam, a vida é bela para os que sabem viver, ela toda um hino de amor, um grande poêma, porque á em cada coração um sacrário onde arde a chama purificadora do amor."
Romance de Iaiá e Dêo,
Desculpem se a história não está bem contada.
Uma homenagem da sempre amiga e admiradora
Rôsina
Pôrto Alegre 30-6-1961
Arquivo Pessoal de Marilia Gudolle C. Göttens
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ResponderExcluirEu me identifico muito com tudo que leio, cada detalhe me emociona.
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