REGISTROS, GENEALOGIAS, HISTÓRIAS E POESIAS...
a fim de preservação da memória de nossos ancestrais
MARILIA GUDOLLE C. GÖTTENS

sexta-feira, 23 de março de 2012

À Minha Mãe - Fábio Silva Conceição

Ouve mãe, quanta saudade,
Eu sinto da minha infância
Vivida na nossa Estância
Dos campos lá do Itaqui...
Óh! Lembranças de guri!
Óh! minha doce lembrança!
Como era bom ser criança
E viver perto de ti...

Na nossa casa da estância
Havia uma varanda
E era pr' aquela banda
Que a gente parava mais...
Ali se liam jornais
Sobre uma mesa comprida,
Usada em toda a lida
E riscada de sinais...

Junto à mesa da varanda
Crescia linda roseira
Subindo na trepadeira
Com grandes e brancas rosas,
Que perfumavam cheirosas
As noites de vagalumes,
Aflorando entre os negrumes
De luzinhas misteriosas...

Eras da estância a Patroa
E a dona daquele ambiente...
Sempre cercada de gente,
Tinhas as chaves na mão
E também a direção
Da limpeza, da costura,
E de toda uma fartura
Que vinha lá do galpão...

No galpão, o pai mandava...
Professor inteligente
Levava a estância pra frente
A seu jeito e com maneiras...
Depois das lides campeiras
Num garanhão aragano,
Ele arrancava do piano
Umas toadas brejeiras...

Entre a casa e o galpão,
Nas sombras dos arvoredos,
Guardei todos os brinquedos,
Os sonhos e as fantasias...
Guardei puras alegrias,
Guardei a felicidade,
Só não guardei a saudade
Que trago daqueles dias...

Arquivo Pessoal de Marilia Gudolle G"ottens

quinta-feira, 22 de março de 2012

Déborah Krebs Conceição - Uma Doce Lembrança


Quando fui estudar em Santa Maria, RS para prestar vestibular em 1978 e 1979, conheci Déborah Krebs Conceição na casa de meus tios Déa e Benoni, onde eu morava. Ela era amiga de uma de minhas primas e fomos fazendo uma longa amizade. Logo depois, Déborah que era professora da UFSM, do Departamento de Química, foi convidada para lecionar a disciplina de Química Orgânica e Inorgânica no cursinho que eu frequentava.
Não poderia estar mais feliz, em ter a nossa amiga como professora. Ela era uma pessoa singular, expressiva e de uma personalidade marcante. Onde estava, não havia tristeza, pois sua alegria era contagiante.
Lembro a primeira vez em que fui à sua casa, lá conhecendo seus pais S. Fábio Silva Conceição e D. Tereza Krebs, que estavam de visita na cidade, pois moravam na estância em São Vicente.
Conversa vai, conversa vem, seu Fábio perguntando sobre minha família, após eu responder, assim me disse: Sabe menina, somos parentes e bem próximos; pelo lado dos Gudolle e dos Silva!!!!! Achei aquilo fascinante e contei a minha tia e depois à minha mãe, e elas confirmaram o parentesco sim.
Os filhos de S. Fábio e D.Tereza residiam em Santa Maria, naquela casa enorme da R. Prof. Teixeira. Se não me engano, Celso, o mais novo, morava com os pais.
Lembro da Marilia, minha tocaia, da Marta, do Carlos, do Décio e não recordo de ter visto o Álvaro, acho que não o conheci, e é claro, a Déborah.., minha doce lembrança.
Muitas vezes depois, encontrei S. Fábio na sua casa em Santa Maria. Ele vinha sempre sorridente e conversador e a mim se referia:" Olá, minha parentinha, como vais?" "e teu pessoal, todos bem?".
Déborah foi para mim, aquela pessoa que eu sentia segurança e que se preocupava comigo principalmente, em relação aos meus estudos.
Várias vezes me levava para a sua casa, e preparava um belo jantar juntamente com sobremesas maravilhosas que ela gostava de fazer. Ficávamos retomando nossa Química por 1 hora, e depois, já bem tarde da noite íamos conversar sobre outros assuntos, como "nossos amores, até "pirar", como ela dizia.
Déborah foi uma das pessoas mais queridas que passou pela minha vida, cujas lembranças jamais se apagarão.
Nossas saídas do cursinho à noite, passando sempre por uma confeitaria que ficava aberta até bem tarde, localizada algumas casas antes da Catedral. Como eu gostava daqueles doces!!!! Lá, ela comprava-os e vínhamos comendo pelo caminho até onde eu morava. Para chegar até sua casa, era preciso passar pela minha. Então, ela entrava e ficava mais um longo tempo conversando com minha prima e comigo.
Outras vezes Déborah me levava até a UFSM onde mantinha sua sala no Departamento de Química. Lá, enquanto trabalhava, me passava a matéria que iria ver no cursinho à noite.
Era Déborah, uma pessoa muito simples, tinha um jeito único de ser, gostava de bem vestir e vivia sempre de bem com a vida.
Era uma pessoa fantástica que eu tive o privilégio de com ela conviver.
Quando retornei à minha cidade, não perdemos contato. Correspondia-mos contando de
nossas vidas. Devo ainda ter suas cartas, que de tão bem guardadas, não consigo encontrá-las.
Com o tempo, nossas correspondências foram diminuindo, mas no seu aniversário, eu sempre enviava-lhe um cartão.
Alguns anos depois, por duas vezes, nos encontramos casualmente na praia de Capão da Canoa. Lá muito conversamos, relembrando nossos tempos vividos, com a promessa de nos reencontrar mais vezes.
Mas como o tempo é nosso eterno companheiro, me afastou de Déborah.
Mas o mais incrível de tudo, aconteceu em março ou abril de 2010, época em que eu estava montando o quebra-cabeças da genealogia por parte de minha avó e meu avô maternos, quando encontrei os ascendentes de Déborah e S. Fábio, cuja ligação vem a ser bem próxima.
Nessa época, invadiu-me uma saudade e vontade de rever a doce amiga. Quando soube que a mesma não mais morava em Santa Maria, mas em Cacequi, e estando casada, não lembro como, mas consegui o telefone de Marilia, sua irmã, e de seu Fabio, com quem falei por uns momentos.
Finalmente, liguei para minha amiga e ela atendeu-me dizendo: "È a minha amiga doutora"?
"Como te passas"? "Que baita saudade"!!! Eu somente a ouvia, emocionada. E no final assim falou: " Me escreva contando da vida, pois não tenho e não gosto desse tal apetrecho de internet"!!!
No mesmo dia a escrevi, mas não veio resposta. Assim mesmo eu estava feliz com nossa longa conversa.
Quando foi numa manhã fria de junho do mesmo ano, mais ou menos 2, 3 meses que tínhamos conversado, recebi o mais triste e mail até hoje por mim recebido, de minha prima de Santa Maria avisando-me do falecimento inesperado de nossa querida amiga Déborah, num baile em Cacequi.
O choque que tive foi muito grande, ficando eu por muito tempo, sem conseguir assimilar o seu retorno à pátria espiritual.
Hoje, já passados quase dois anos de seu desencarne, penso que Déborah deva estar em contínuos ensinamentos de química, em alguma colônia espiritual, falando da "piração dos elétrons e dos prótons" e da sua química orgânica. Somente assim faz sentido para mim, aceitar essa distância tão distante fisicamente.
Um dia, não sabemos quando, tenho a plena certeza de que iremos nos reencontrar, pois como diz uma sábia companheira da casa espírita:" Os que se amam, se reencontram na eternidade".
À Você, Déborah, muita paz e luz...
Marilia.


terça-feira, 20 de março de 2012

Rita de Cássia Monteiro Sampaio - Uma História de Família



Como já postado anteriormente, Rita de Cássia Monteiro Sampaio nasceu em 1873 em Itaqui, RS, sendo filha do Major José Antunes Monteiro, filho de Miguel Ferreira Sampaio e Leonor de Araújo Nóbrega; e de Esmerilda Monteiro Silva, filha de Duarte Joaquim da Silva e Maria José Monteiro Silva.
Rita de Cássia casou com Antônio Francisco Corrêa da Silva, nascido em 1871.
Em 3 de setembro de 1898, nasce desta união Maria Luiza Sampaio da Silva, em Itaqui, RS. Esta Maria Luiza, vem a ser sobrinha da outra Maria Luiza, casada com André Gudolle em 2ªs núpcias.

Arquivo Pessoal de Marilia Gudolle Göttens.


A seguir, " História de Família", autoria de Rita Faraco.

Dima, Pedro e filhos

"Nosso avô, PEDRO DE AZEVEDO CONCEIÇÃO, nasceu em São Sebastião do Caí, RS, em 21 de fevereiro de 1888. Era o filho mais velho do casal Maria Antônia Teles de Azevedo, nascida em 29/02/1869 e Virgílio de Souza Conceição, nascido em 20/3/1857, em Porto Belo, SC. O casal cujas famílias estão vinculadas a alguns dos mais antigos troncos do Rio Grande do Sul, tinha mais 5 filhos: Marieta, casada com Gastão Prates, Julieta, Moreninha, Jorge e Daura, casada com Oscar Fischer.
Vovô passou parte de sua infância na região colonial, onde seu pai, engenheiro agrimensor, formado pela Universidade de Barcelona, Espanha, demarcou as terras do local Campos dos Bugres, atual cidade de Caxias do Sul, onde havia uma rua com seu nome.
Morou também em Montenegro, na Fazenda do Pontal, de propriedade de sua família.
Fez seus estudos em Porto Alegre e, por volta de 1913, foi nomeado professor na cidade de São Borja. Na época, era Secretário de Educação o Dr. Protásio Alves e o Rio Grande do Sul era governado por Júlio de Castilhos. Algum tempo depois, Pedro transferiu-se para a cidade de Itaqui, onde foi professor e diretor da escola Complementar.
Em Itaqui, conheceu a jovem Maria Luiza Sampaio Silva (Dima), nascida em 3/9/1898, em Itaqui, filha de Rita de Cássia Monteiro Sampaio e de Antônio Francisco Corrêa da Silva. Apaixonou-se, e seu amigo Coronel Euclides Aranha, pai de Oswaldo Aranha, pediu em seu nome a mão da donzela. Aceito o pedido, o casamento realizou-se em 24/12/1915, quando Maria Luiza tinha 17 anos e Pedro 27. A lua-de-mel foi em Buenos Aires, Argentina. Até chegar ao destino, Pedro e Dima foram vendo o Natal em todas as cidades que passavam.
Como a sogra era viúva, após o casamento Pedro passou a administrar a fazenda Sina-Sina, de propriedade dela, passando, mais tarde, a arrendá-la. Dedicou-se a essa atividade por mais 50 anos. Com a morte da Vovó Rita, as terras foram divididas entre a Vovó Dima e Tio Percy, que ficou com a sede. (Percy era também filho de Rita e Antônio Francisco). Na parte que coube a Vovó, construiu outra casa e chamou a propriedade de Rancho Grande. Na fazenda, lecionava os filhos, ajudado pela irmã Moreninha que morou durante algum tempo com a família do irmão.
Pedro e Dima tiveram 6 filhos: Déborah, Ilka, Darcy, Nilo, Fábio e Beatriz. Déborah casou com Humberto Zacaro Faraco, Ilka casou com Alexandre Orcy, Darcy casou com Maria do Carmo Mattos, Nilo casou com Amira Squeff, Fábio casou com Teresa Krebs, Beatriz casou com Washington Manoel Vijande de Sosa Bermúdez.
Vovô era alegre e barulhento. Contava histórias com muita graça e seu riso contagiava quem estivesse por perto. Adorava ir ao Clube do Comércio em Itaqui, do qual foi presidente. Houve uma época em que a família morou em frente ao clube. Quando Vovó Dima queria saber onde andava o marido, abria a janela da casa e logo escutava as risadas e a voz trovejante dele, divertindo-se com os amigos no prédio em frente. Vovô dançava bem e não perdia bailes. Era ele quem marcava a quadrilha, dando os comandos em francês.
Quando Vovô ainda morava em Montenegro e marcava a quadrilha em português em um baile da campanha, um dos comandos era "olha a cobra". Foi nessa hora que a moça com quem fazia par, achando que era uma cobra de verdade, desapareceu espavorida. Ele contava essa história às gargalhadas.
Amplamente relacionado na sociedade Itaquiense, foi um elemento de destaque em sua comunidade. Era um homem de vasta cultura e voltado ao progresso. Alegre, extrovertido e comunicativo, Pedro foi um grande entusiasta das artes. Apreciava os livros, tanto a prosa como as poesias, e adorava charadas e trocadilhos. Mas sua paixão era a música. Cultivou a música popular e a clássica e era exímio e talentoso pianista. Gostava de tocar valsas (Subindo ao Céu, que dedicava à Vovó, Romanza, Eponina e Flor do Mal) sambas (Tico-tico no Fubá), marchas (Saudade de minha Terra), composições de Zequinha de Abreu e de Ernesto Nazareth, polcas, tangos (Brejeiro) e maxixes (Pisando em Ovos, de autoria de Carlos de Abreu, cunhado de Getúlio Vargas).
Depois das lidas do campo na fazenda Sina-Sina, Vovô tomava banho, colocava o pijama e sentava-se ao piano. Tocava durante horas e todos dançavam, inclusive Vovó Rita. A música atraía a peonada que se debruçava na cerca para ouvir.
Tornou-se rádio amador e lá no Rancho Grande levantava antes do sol nascer para chamar os companheiros de rodada. Fazia o maior barulho e acordava todo mundo caminhando de tamancos e com a bombacha sempre caindo. Ligava o gerador, pigarreava em altos brados e já começava: "Bororé de Bororé"...
Foi numa dessas rodadas que o amigo Juca Vieira, conhecido pelas tiradas cômicas, contou que tinha ouvido notícia de que havia começado uma guerra meio mundial e que a Alemanha tinha invadido um país com nome parecido com égua (Noruega).
Adorava os netos e dava-lhes apelidos estranhos como: Dona Sezebuta, Dona Maria Quitéria e Seu Fulano dos Anzóis, Carapuça ou dos Pinhais, divertindo-se com as caras desconfiadas que faziam.
Era bom cavaleiro e, na fazenda, sua montaria preferida era uma égua chamada Bugra, preta e com uma estrelinha branca na testa. Depois, já no meu tempo, montava uma égua tordilha chamada Bolacha que os peães não deixavam os netos encilhar porque o animal "era do andar do patrão".
Tinha um hábito engraçado. Quando estava na cidade, chegava em casa e colocava o pijama, quase sempre listrado de preto, branco e azul, conservando a camisa social e a gravata. Aliás, antigamente era chique os cavalheiros usarem o casaco de pijama, como blazer nas viagens de trem.
Na mocidade, dava suas escapadas. No Bororé ou no Recreio vivia um certo Pedro Lacerda que, segundo diziam, era filho dele com uma tal de Selvanira, filha de um posteiro da fazenda. Pedro Lacerda morreu em 14/2/2003, aos 72 anos e deixou uma família numerosa. Tio Fábio conheceu-o e considerava-o uma excelente pessoa.
Vovô só envelheceu fisicamente. Durante sua longa enfermidade ele dizia inconformado:" a carcaça é velha, mas o espírito continua jovem". Morreu em 9/8/1969, aos 81 anos, em Porto Alegre, e tocou piano até a véspera de sua morte.

Arquivo pessoal de:
Rita Faraco, neta de Maria Luiza Sampaio Silva e Pedro Conceição.














2º Casamento de André Martins Gudolle

Três anos após a morte de Maria Benvinda Pereira Gudolle, André (meu bisavô materno), casa com a jovem de 19 anos Maria Luiza Monteiro Silva Sampaio, nascida em 25/8/1878 em Itaqui, RS, filha do Major José Ferreira Sampaio e Esmerilda Monteiro Silva Sampaio, ambos casados em 1884, em Itaqui, RS. O pai de Maria Luiza faleceu em 17/4/1906, na Sesmaria de Santo Cristo, lugar denominado "Angico", Itaqui, RS RS. Esmerilda era irmã de Duartina Monteiro Silva, que em 1913, veio a casar-se com Deuclydes Pereira Gudolle (meu avô), filho de André. A mãe de Maria Luiza, faleceu em 14/01/1914, mesmo lugar de seu esposo.
Maria Luiza, era neta paterna de Miguel Ferreira Sampaio e Leonor de Araújo Nóbrega, e materna de Maria José Monteiro Silva e Duarte Joaquim da Silva, anteriormente postado.
Do casal Esmerilda e José Ferreira Sampaio, houveram mais 4 filhos além de Maria Luiza:

1. Rita de Cássia Monteiro Sampaio, nascida em 1873, Itaqui, RS;
2. Deodoro Monteiro Sampaio, nascido em 1887, Itaqui, RS;
3. José João Monteiro Sampaio, nascido em Itaqui, RS;
4. Maria José Monteiro Sampaio, nascida em Itaqui, RS.